Criminofísica - Como a Física e a Matemática Aplicada Auxiliam no Combate ao Crime Organizado.
O crime, fenômeno tradicionalmente analisado por disciplinas como o direito e a sociologia, é abordado no livro "Criminofísica: a ciência das interações criminais" e, nesta entrevista, o autor, BRUNO REQUIÃO DA CUNHA, esclarece a abordagem sob a óptica de campos científicos como a física, a matemática e as ciências de redes e de dados.
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- Criminofísica: a ciência das interações criminais - "Fenômeno tradicionalmente analisado por disciplinas como o direito e a sociologia, o crime ganha nesta obra uma nova abordagem sob a óptica de campos científicos como a física, a matemática e as ciências de redes e de dados."
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Transcript
Honoráveis ouvintes, sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Extramuros Podcast.
Washington Clark:Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião.
Washington Clark:A criminofísica é uma abordagem científica que busca analisar e compreender o fenômeno criminal por meio da aplicação de conceitos e métodos da física, matemática e outras ciências relacionadas.
Washington Clark:Ao estudar os fenômenos criminais por meio da criminofísica, os especialistas podem identificar conexões entre crimes, entender os fatores que resultaram na ocorrência de certos delitos, desenvolver modelos preditivos e colaborar na formulação de estratégias mais eficazes para a segurança pública.
Washington Clark:No episódio de hoje, sob o patrocínio da X360, uma empresa comprometida com a exatidão, tenho a satisfação de recepcionar Bruno Requião da Cunha, autor do livro Criminofísica, a ciência das interações criminais, que leciona como a física e a matemática aplicada podem ajudar no combate ao crime organizado.
Washington Clark:Dando-lhe as boas-vindas, Bruno, e agradecendo pela sua colaboração em qualificar este canal, peço que se apresente e fale um pouquinho como nasceu o livro Criminofísica, a ciência das interações criminais.
Bruno Requião:Muito obrigado, doutor Washington, pela oportunidade de estar conversando aqui com a audiência do podcast sobre criminofísica, sobre esse livro que publiquei recentemente.
Bruno Requião:Meu nome é Bruno Riquião, eu sou autor do livro, sou doutor em Física Teórica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tenho pós-doutorado em Matemática aplicada pela Universidade de Limerick.
Bruno Requião:E fui policial federal por quase 13 anos.
Bruno Requião:Hoje estou na iniciativa privada, trabalhando também com investigação criminal.
Bruno Requião:A ideia do livro, como nasceu o livro, basicamente é uma convergência de vários caminhos que eu tive recentemente da área acadêmica, da pesquisa em ciências naturais, em física, da experiência na polícia, na investigação criminal, na polícia federal.
Bruno Requião:E na introdução, talvez, quando eu ingressei na polícia federal, começou-se a falar sobre análise de redes sociais na investigação criminal.
Bruno Requião:Então, é uma convergência de vários fatores que levou a essa ideia, que acabou sendo discutida num encontro de pesquisa, que levou a um efeito dominó, uma coisa levou a outra, até resultar no livro, na ciência das interações criminais, que vai ser o nosso bate-papo de hoje.
Washington Clark:Bruno, qual é o conceito de criminofísica Como ela difere das abordagens tradicionais do direito e da sociologia?
Washington Clark:E quais são os benefícios de abordar o crime de uma perspectiva científica, além das abordagens tradicionais?
Bruno Requião:Esse conceito bebe da fonte do século XIX, do polímata belga que se chamava Dov Ketele, que cunhou esse termo sociofísica.
Bruno Requião:que é basicamente enxergar os fenômenos sociais com a mesma visão, com a mesma epistemologia, talvez no termo mais técnico, das ciências naturais, da física, da química, da matemática, etc.
Bruno Requião:Então, basicamente, a criminofísica é essa visão dos fenômenos coletivos, dos fenômenos criminais, coletivos como fenômenos físicos, como fenômenos estudados da mesma maneira que são fenômenos tradicionalmente estudados pela física.
Bruno Requião:E com essas aplicações diretas na investigação criminal, na eficiência da investigação criminal.
Bruno Requião:Ela difere muito do direito e da sociologia, principalmente por essa questão epistemológica, esse termo que eu falei antes, que é basicamente como a gente aborda a realidade, a gente aborda a verdade, no aspecto um pouco mais etimológico da palavra.
Bruno Requião:Então, basicamente, enquanto a gente tem uma epistemologia mais voltada puramente para exercícios racionais, como no direito, na sociologia, em alguns campos de pesquisa humanísticos, na ciência natural a gente tem a experiência como a mãe das provas.
Bruno Requião:Então essa epistemologia empiricista é o que define a criminofísica, o que diferencia ela do direito da sociologia.
Bruno Requião:A gente não está interessado em soluções retóricas, em argumentações, a gente está interessado na evidência fática, na evidência empírica, da mesma maneira como a física tradicional busca conhecer os fenômenos.
Washington Clark:Além da análise de redes, que outros métodos e técnicas a criminofísica proporciona para auxiliar na identificação de conexões e estruturas no crime organizado?
Bruno Requião:Desde a estatística, a estatística básica, até passando por machine learning, por aprendizado de máquina, inteligência artificial, acho que tudo isso tem a contribuir com essa visão do fenômeno criminal a partir das ciências físicas.
Bruno Requião:A gente pode citar aqui, por exemplo, existem cadeias de spin, o pessoal talvez lembre aí do segundo grau, que os elétrons tem essa propriedade de spin, spin up, spin down.
Bruno Requião:Isso, por exemplo, pode ser aplicado para se modelar eleições, ou opinião.
Bruno Requião:Opinião positiva ou negativa, sim ou não, binária sobre determinada coisa, pode ser modelada a partir desses mesmos métodos que são usados para se investigar, por exemplo, magnetismo.
Bruno Requião:Isso também pode ser utilizado na investigação criminal para se entender como determinado indivíduo pelo cometimento de um crime.
Bruno Requião:Outros fatores que podem influenciar, a gente pode falar em como que os índices criminais variam ou não, o aumento da população de uma cidade, isso tem um paralelo muito grande com o fenômeno que se chama alometria, em que as proporções acabam variando conforme aumenta o número da população dessa cidade.
Bruno Requião:Então, a gente tem diversos métodos que podem nos auxiliar, desde os mais simples aos mais complexos.
Washington Clark:Tem exemplos de casos de sucesso em que a criminofísica desempenhou um papel importante na resolução de crimes ou desmantelamento de organizações criminosas?
Bruno Requião:Excelente pergunta.
Bruno Requião:Eu acho que Esse é o objetivo, ou deveria ser o objetivo de qualquer conceito novo, de qualquer proposta nova.
Bruno Requião:A resposta curta é sim, existem diversos casos concretos em que a criminofísica desempenhou e desempenha algum papel, e muitas vezes um papel bastante nevrálgico, no sucesso de algumas investigações criminais, principalmente aqui no Brasil.
Bruno Requião:É difícil de discutir casos concretos, específicos, com motivos óbvios, muitos casos correm em NCB de Justiça, então no meio de investigação, mas sim a gente observa algum aumento de eficiência já, a gente observa uma sensibilização dos operadores de segurança pública da necessidade dessa nova abordagem, da necessidade de concatenação entre os órgãos de aplicação da lei e eu acredito que muito mais ainda está por vir.
Bruno Requião:Acho que em breve a gente vai sentir mais ainda os resultados do uso dessas, dessa abordagem, não só dessa da criminofísica, mas de todas essas abordagens que tem menos foco na retórica e mais foco nos resultados reais, que é o que no final das contas o que a população tem como objetivo.
Bruno Requião:Acredito que mais casos além dos que a gente já sabe que vem acontecendo ainda vão surgir.
Washington Clark:Bruno, existem casos em que essa abordagem não é eficaz?
Washington Clark:Que habilidades e conhecimentos são necessários para se tornar um especialista em criminofísica?
Bruno Requião:Eu sempre gosto de falar que não se está oferecendo uma parcéia aqui para todos os problemas da segurança pública.
Bruno Requião:É mais uma ferramenta, é mais uma abordagem.
Bruno Requião:Aquela velha parábola que várias pessoas cegas começam a tentar descrever um elefante conforme tocam nas partes do animal.
Bruno Requião:Um vai descrever de um jeito, outro vai descrever do outro.
Bruno Requião:Conforme a gente recolhe as observações de todas essas pessoas, a gente tem uma uma visão um pouco mais completa do bicho.
Bruno Requião:Eu acho que é a mesma coisa no nosso caso aqui.
Bruno Requião:Existem situações em que, obviamente, a criminofísica não vai ser a solução.
Bruno Requião:Em alguns momentos há necessidade de disciplinas retóricas para convencimento, para judicialização.
Bruno Requião:Então, cada coisa tem o seu momento.
Bruno Requião:Por exemplo, quando a gente tem redes que tem uma característica muito típica de serem muito homogêneas, de terem uma distribuição de conexões muito específica, a gente não consegue determinar quem são os indivíduos chaves nessa rede.
Bruno Requião:Então, a gente vai ter alguma dificuldade de se abordar, de se fragmentar redes criminais com essa determinada característica.
Bruno Requião:E existem outros tantos casos em que essa abordagem pode não ser eficiente, como se tem falta de dados, quando não se consegue mapear de uma maneira eficiente o problema, a rede criminal, a organização criminosa, etc.
Bruno Requião:Então, obviamente, há limitações e não são poucas, em qualquer outra proposta.
Bruno Requião:Em termos de habilidades, conhecimentos para se tornar um especialista, eu acredito que o principal é a gente ter uma boa delimitação, uma boa diferenciação de como que é, eu sempre gosto, apesar dessa palavra talvez parecer um pouco estranha para algumas pessoas, mas a gente saber diferenciar a epistemologia das ciências naturais, a epistemologia das disciplinas humanísticas.
Bruno Requião:São epistemologias completamente diferentes, usadas para coisas completamente diferentes, e a gente tem uma tendência a misturá-las.
Bruno Requião:Então, o primeiro passo para se tornar um especialista em criminofísica é saber diferenciar as duas coisas.
Bruno Requião:É saber o que é uma epistemologia empiricista, e isso é a gênese da ciência, E o que é a epistemologia mais racionalista que é a típica de disciplinas retóricas?
Bruno Requião:E quando a gente deve aplicar cada uma delas?
Bruno Requião:A partir daí é que vem todo o resto do treinamento específico em ciência de redes, em matemática aplicada, etc.
Bruno Requião:Mas o principal, esse é o primeiro passo.
Washington Clark:Como a criminofísica pode ser aplicada em diferentes áreas da segurança pública, além da investigação de crimes?
Bruno Requião:Eu acredito que não só na investigação criminal, como, por exemplo, na identificação de alvos-chaves em uma organização criminosa, mas na macrogestão, na gestão da macrocriminalidade.
Bruno Requião:nessa identificação de que os fenômenos estão conectados, assim como todos nós estamos conectados hoje em dia com o mundo inteiro, as redes criminais também, elas operam de maneira concatenada, de maneira conexa, então a gente conseguir observar essa macro criminalidade de uma maneira gerencial, de uma maneira estratégica, é também um diferencial da criminofísica.
Bruno Requião:A partir daí a gente pode gerir dessa maneira mais eficiente, abordar de uma maneira holística a criminalidade.
Bruno Requião:Isso talvez, de um ponto de vista mais estratégico, seja o grande diferencial da criminofísica.
Washington Clark:Há uma relevância no papel das estatísticas na criminofísica?
Washington Clark:A integração de bases facilitaria e qualificaria os dados estatísticos usados para análise criminal?
Washington Clark:Quais são os principais desafios técnicos e científicos enfrentados pelos especialistas em criminofísica no processamento e interpretação de grandes volumes de dados criminais?
Bruno Requião:Eu acredito que sim, a estatística tem um papel relevante em praticamente tudo hoje em dia na nossa sociedade, mas ela é muito mal utilizada também.
Bruno Requião:É preciso sair das respostas óbvias, da má interpretação estatística dos dados.
Bruno Requião:E o que a gente mais vê hoje em dia, principalmente na mídia, é uma interpretação muito mal feita, o que leva a resultados completamente absurdos.
Bruno Requião:A estatística tem que ser usada com muito critério, e isso não se vê hoje em dia na maioria dos lugares, principalmente quando a gente fala de mídia e de áreas não tradicionalmente envolvidas com conhecimento estatístico um pouco mais profundo, como são as humanidades, quando a gente fala do direito, da sociologia, por exemplo.
Bruno Requião:A integração de bases facilitaria, qualificaria?
Bruno Requião:Sim, é evidente, a gente tem hoje em dia de várias bases de dados, cada estado tem a sua, cada entidade, cada órgão de cada estado tem as suas próprias bases, e a falta de conversa entre essas bases de dados faz com que a gente tenha uma visão incompleta do fenômeno, tanto de vista regional quanto do ponto de vista da macro-criminalidade.
Bruno Requião:conseguir realmente aplicar esses conceitos, a gente precisa ter uma base de dados confiável, a gente precisa poder enxergar o fenômeno do ponto de vista macroscópico, enxergar essa macrocriminalidade de uma maneira mais fidedigna.
Bruno Requião:Então talvez esse seja exatamente um dos principais desafios técnicos.
Bruno Requião:A gente ter bancos de dados fidedignos, bancos de dados que sejam confiáveis, E para que isso ocorra, eles devem ser integrados.
Bruno Requião:A gente precisa conseguir ter essa visão holística do fenômeno para poder aplicar essas ferramentas, esses conceitos que a gente vem discutindo.
Washington Clark:De que maneira a criminofísica pode auxiliar na tomada de decisões estratégicas e na formulação de políticas de segurança pública?
Bruno Requião:Eu acredito que o principal auxílio que a criminofísica pode pode fornecer a tomada de decisões e na formação de políticas de segurança pública é poder enxergar o fenômeno criminal de uma maneira holística é poder compreender a macro criminalidade como ela opera quem são os elementos chaves dessa macro criminalidade para que os órgãos de repressão possam priorizar aqueles indivíduos que estruturam essas redes criminais, que estruturam a macrocriminalidade e sem os quais essa própria macrocriminalidade não consegue operar.
Bruno Requião:Então essa que talvez seja a grande virada de chave.
Bruno Requião:o uso dessa ferramenta como ponto focal na formulação de políticas públicas que consigam serem eficientes nesse desmantelamento dessa macrocriminalidade.
Washington Clark:Como a criminofísica pode ser utilizada na identificação e prevenção de crimes de colarinho branco como fraudes financeiras e corrupção?
Bruno Requião:A gente observa que, por exemplo, redes de corrupção, elas...
Bruno Requião:Há algum tipo de universalidade nesse tipo de fenômeno.
Bruno Requião:Então, por exemplo, redes de corrupção na Espanha e redes de corrupção no Brasil, elas tendem a se comportar de uma maneira muito parecida.
Bruno Requião:E o ingrediente-chave nesse tipo de rede é a reincidência.
Bruno Requião:Então, existe um número crítico de reincidência a partir do qual essas redes se estruturam de uma maneira muito rápida.
Bruno Requião:Então manter a reincidência abaixo desse número crítico é uma ferramenta fundamental para se impedir as redes de corrupção operarem de maneira eficiente.
Bruno Requião:Isso é uma primeira estratégia de utilização da criminofísica.
Bruno Requião:Outra estratégia é a gente utilizar subcampo talvez da criminofísica, que é a aplicação de métodos de aprendizado de máquina, de inteligência artificial para a obtenção de padrões criminais, em especial gerar alertas, os red flags que a gente chama quando algum tipo de transação financeira apresenta fatores que são de risco.
Bruno Requião:Esses fatores de risco podem ser identificados por essas ferramentas da criminofísica que a gente vem discutindo.
Washington Clark:Que estratégias são usadas para disseminar e promover a criminofísica como uma abordagem científica no campo da justiça criminal?
Bruno Requião:Eu acredito que a principal estratégia é a educação.
Bruno Requião:Conforme vai se criando uma massa crítica de pessoas que conheçam o conceito, que sabem da eficácia dessa abordagem, as próprias redes nas quais a gente vive assumem o papel de propagar a informação, de convencer também os operadores da justiça criminal de que é importante também essa visão.
Bruno Requião:Com o tempo também a gente vai observando os cursos que eu venho dando também, magistrados, promotores, procuradores, etc.
Bruno Requião:se interessando pelo tema e traduzindo muitos desses conceitos para o linguajar próprio do meio jurídico.
Bruno Requião:Aqui também a gente tem que entender que a ciência ela tem o seu linguajar próprio, assim como o direito tem o seu linguajar próprio e em algum momento as evidências científicas, o processo científico, quando a gente fala de investigação criminal, ele tem que ser judicializado.
Bruno Requião:Então é importante que os operadores do direito também tenham, pelo menos, uma visão conceitual do que é a crime física, do que é o fenômeno criminal, sobre esse ponto de vista, e como abordá-lo de uma maneira eficiente e produzir argumentos retóricos, argumentos jurídicos que se coadunem com essa abordagem.
Washington Clark:Podes elencar os principais benefícios da colaboração entre a academia, os profissionais da área de segurança e os órgãos de aplicação da lei na criminofísica?
Bruno Requião:É importante a gente destacar que nem tudo que é trabalho acadêmico é científico, nem tudo que é trabalho científico é acadêmico.
Bruno Requião:A gente tem, por exemplo, diversos casos de prêmios Nobel que foram agraciados pesquisadores fora do meio acadêmico.
Bruno Requião:Muito da pesquisa científica feita hoje em dia de alto impacto é feita fora do meio acadêmico.
Bruno Requião:Então eu acho que o grande ganho não é necessariamente colaboração entre academia, segurança pública, aplicação da lei, etc.
Bruno Requião:O grande ganho é na introdução da ciência e do método científico nos órgãos de segurança pública, nos órgãos de aplicação da lei.
Bruno Requião:Esse é que é o grande ganho.
Bruno Requião:Obviamente, alguma parte dessa produção científica é feita nas universidades, mas, como a expressão da Cintaleb, muito da pesquisa que é feita nas universidades não tem aquela pele em jogo, aquela visão de realidade, aquela visão de mundo real que é muitas vezes exclusiva dos operadores da segurança pública.
Bruno Requião:Muitas vezes se produzem conhecimentos acadêmicos, muitas vezes não científicos e muitas vezes fora da realidade do fenômeno que está sendo investigado, muito pelo fato dos pesquisadores não terem essa pele em jogo.
Bruno Requião:Essa noção de realidade, essa noção de risco daquilo que está sendo pesquisado.
Bruno Requião:Ainda mais quando a gente fala em segurança pública, em uma realidade, em um fenômeno que envolve, sim, um grau muito grande de risco.
Washington Clark:Quais são os requisitos éticos e legais para o uso de técnicas criminofísicas em processos judiciais?
Washington Clark:Como garantir a validação e confiabilidade dessas técnicas?
Bruno Requião:Eu acredito que os requisitos éticos e legais para os conceitos das técnicas de criminofísica e processos judiciales são os mesmos já consolidados na investigação criminal.
Bruno Requião:Desde o código de ética dos funcionários públicos, dos policiais, passando pela própria legislação criminal, do próprio Código de Processo Penal, não foge de muito a regra.
Bruno Requião:Eu acho que o grande desafio jurídico aqui não é necessariamente a construção desses argumentos jurídicos para a validação e a confiabilidade dessas técnicas.
Bruno Requião:mas sim pela modificação de determinados tipos penais que levem em consideração o papel dos indivíduos na estruturação de redes criminais, na estruturação do crime organizado e no reconhecimento de que muitas vezes o papel daquele grande líder de uma organização criminosa não é tão importante assim quanto a gente imaginava quando a gente leva em consideração a estruturação, essa cola social que faz com que esses grupos acabem existindo e operando.
Bruno Requião:Então eu acredito que a validação jurídica, a construção de argumentos jurídicos para o uso desses métodos não é algo que seja preocupante, porque as ideias em si já se coadunam com o que se conhece em termos de legislação criminal aqui no Brasil.
Bruno Requião:Um grande pulo do gato talvez seja esse, a modificação de alguns tipos penais e a adequação desses tipos penais a essa conceituação, a importância de determinados indivíduos na estruturação de redes criminais.
Washington Clark:Como observas as perspectivas futuras da criminofísica?
Washington Clark:Percebes e acreditas na evolução de sua aplicação nos próximos anos?
Bruno Requião:Eu acredito que as perspectivas futuras são muito boas.
Bruno Requião:Como eu disse anteriormente, paulatinamente vem se criando uma massa crítica de operadores da segurança pública interessados numa visão não só retórica, mas numa visão científica do fenômeno criminal.
Bruno Requião:Uma abordagem eficiente, pragmática.
Bruno Requião:desse problema social, uma desmistificação de alguns conceitos arregados basicamente, de novo, na retórica, sem fundamentação científica.
Bruno Requião:Então eu acho que a tendência é que com os anos as pessoas se sensibilizem mais e percebam que o uso da ciência é fundamental para se melhorar os índices de violência, para se tornar a investigação criminal mais eficiente, menos retórica, menos burocrática, mais pragmática.
Bruno Requião:Eu acredito que esse é o caminho, acredito que mais cedo ou mais tarde, em breve eu acredito, as pessoas vão se dar conta, vão começar a buscar essas soluções mais eficientes para a segurança pública.
Bruno Requião:Afinal de contas, isso reflete no dia a dia de cada um de nós.
Bruno Requião:Se a gente começa a ter soluções puramente retóricas, sem fundamentação científica, isso faz com que os índices de segurança baixem, com que a gente tenha mais insegurança nas ruas, um país menos seguro, um país mais violento, com mais dinheiro sendo desviado.
Bruno Requião:Então acho que as pessoas aos poucos vêm acordando para essa realidade e vêm buscando ferramentas e conceitos mais sólidos, mais científicos e isso vem convergindo com a proposta da criminofísica.
Washington Clark:Caminhando para o final de nossa conversa, há um tempo em que agradeço pela sua colaboração, o parabenizo pelo teu livro e tua jornada, deixando este espaço para suas considerações finais.
Washington Clark:Grande abraço.
Bruno Requião:Só agradecer também a oportunidade, agradecer pelo bate-papo, sempre enriquecedor a gente trocar uma ideia, a gente conversar.
Bruno Requião:Como eu disse anteriormente, eu acredito que É tudo uma convergência, o livro e as ideias talvez não tivessem lugar se a segurança pública no Brasil fosse tão eficiente quanto a gente gostaria, se os índices de criminalidade, de violência e de corrupção fossem excelentes.
Bruno Requião:Então, acredito que é uma convergência, uma retomada do elemento científico em várias áreas da nossa sociedade, em especial na segurança pública.
Bruno Requião:Talvez a ciência não tenha tido voz na segurança pública desde sempre aqui no Brasil.
Bruno Requião:Acho que está na hora de mudar isso, de se observar o fenômeno criminal através do prisma das ciências.
Bruno Requião:Lembrando que ciências aqui eu falo do ponto de vista das ciências empíricas e não desse guarda-chuva mais amplo.
Bruno Requião:Então a gente fala do ponto de vista das ciências naturais, da física, da química, da matemática, da biologia.
Bruno Requião:Então essa convergência desse modo de enxergar a realidade criminal um pouco diferente talvez nos dê ferramentas para mudar um pouco o panorama da segurança no Brasil.
Bruno Requião:E acredito que sim, acredito que está se criando uma massa crítica de pessoas que entendem essa visão e que conseguem aplicá-la de maneira eficiente no enfrentamento desse problema que aflige todos nós.
Bruno Requião:Só finalizar então agradecendo novamente, estamos à disposição sempre, 24 barra 7.
Bruno Requião:Um abraço a todos e fiquem com Deus.
Washington Clark:Honoráveis ouvintes, este foi mais um episódio do Extramuros Podcast.
Washington Clark:Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião.
Washington Clark:E no episódio de hoje, sob o patrocínio da X360, uma empresa que alia inteligência e interoperabilidade Conversei com Bruno Requião, autor do livro Criminofísica, a ciência das interações criminais.
Washington Clark:Acesse www.extramurospodcast.com.
Washington Clark:Extramuros com H.
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Washington Clark:Será um prazer ter a sua colaboração.
Washington Clark:Pela sua audiência, muito obrigado e até a próxima!