Episode 54

Missão Internacional de Justiça - "Construtores de Pontes para a Liberdade".

Neste conteúdo, sob o patrocínio da Hex 360, uma empresa brasileira especializada em transformar informação em valor, converso com JOSÉ MONTEIRO, Diretor Regional da IJM - A Missão Internacional de Justiça, a qual, desde a sua criação atua em diversos países, colaborando com autoridades locais e parceiros para identificar casos de injustiça e garantir que os perpetradores sejam responsabilizados por seus crimes. Saiba mais em www.hextramurospodcast.com!

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Transcript

ANFITRIÃO 0:14

Honoráveis Ouvintes!

Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros Podcast!

Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião!

No conteúdo de hoje, sob o patrocínio da HEX 360, uma empresa brasileira que combina experiência e inovação para alcançar a confiança e segurança de seus clientes, vamos falar sobre uma organização que tem um papel fundamental na luta contra a injustiça em todo o mundo: A Missão Internacional de Justiça, também conhecida como I. J. M, a qual, desde a sua criação, atua em diversos países, colaborando com autoridades locais e parceiros para identificar casos de injustiça e garantir que os perpetradores sejam responsabilizados por seus crimes. O convidado deste episódio é JOSÉ MONTEIRO, diretor da IJM, ao qual dou as boas vindas e, seguindo o protocolo, peço que se apresente, mencionando sua jornada profissional até alcançar este posto.

JOSÉ MONTEIRO 1:34

Em primeiro lugar, muito obrigado pela oportunidade de estar aqui falando com você e com sua audiência e explicar um pouco o trabalho que tenho feito durante os últimos anos! Meu nome é José Monteiro. Trabalho na Organização Não Governamental Missão Internacional de Justiça, depois de passar mais de 20 anos trabalhando na polícia brasileira. Eu passei sete anos na Polícia Militar de Brasília, no Distrito Federal, e passei outros 15 anos trabalhando na Polícia Federal, em diversos estados do Brasil. Tive também oportunidade, nesse período, de trabalhar em Buenos Aires por dois anos, entre dois mil e quatorze e dezesseis, como adido policial e representando a Polícia Federal Brasileira em Buenos Aires. Tive a oportunidade de trabalhar, também, como Coordenador Nacional de Segurança para dois eventos muito importantes: Copa das Confederações FIFA em dois mil e treze e também, no mesmo ano, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, a visita do Papa Francisco. Além disso, eu já trabalhei na fronteira, trabalhei em aeroportos, enfim, são muitos anos de trabalho! Mas, agora, eu coordeno o trabalho de três países: da Colômbia, da Bolívia, do Peru, como Vice-Presidente Regional da IJM, dessa organização não governamental na comunidade Andina. Nós trabalhamos aqui ajudando o governo para fortalecer a luta contra a violência contra as mulheres e a infância, depois de ter passado cinco anos na República Dominicana, trabalhando o combate ao tráfico de pessoas junto ao governo dominicano. Em termos gerais, essa é a minha experiência.

ANFITRIÃO 2:54

Monteiro; Fale sobre a origem e quais são os propósitos da missão. Ela possui representação e atua no Brasil?

JOSÉ MONTEIRO 3:06

A Organização Missão Internacional de Justiça, foi criada em mil novecentos e noventa e nove, nos Estados Unidos. A nossa sede é em Washington, DC, nos Estados Unidos, e é o propósito geral da organização, o principal da organização, a nossa missão, é proteger as pessoas que vivem em vulnerabilidade da violência. Nós sabemos que dentro desse complexo ambiente da precariedade, muitas vezes social e econômica de algumas sociedades, como a brasileira e como as latino americanas, o fator violência é muito importante porque atinge de maneira transversal a vida dessas pessoas. Dependendo do país onde a organização está baseada - e está em muitos lugares do mundo- nós lutamos contra o tráfico de pessoas, contra a exploração sexual e comercial de crianças, contra a escravidão laboral moderna. Trabalhamos contra a violência contra as mulheres e a infância, enfim, é um leque muito grande de atividades que nós desenvolvemos, mas, sempre com o foco voltado para a proteção dessas pessoas mais vulneráveis econômica e socialmente. E isso faz com que nós trabalhemos, em geral, em países em desenvolvimento, países da África, da América Latina, da Ásia. Ela ainda não possui representação no Brasil e nós estamos explorando uma possibilidade de começar um projeto no Brasil. Se isso funcionar, eu seria também o coordenador desse projeto, mas, ainda não posso entrar em detalhes porque estamos ainda negociando com uma grande empresa brasileira essa possibilidade com o Brasil.

ANFITRIÃO 4:35

Qual a estrutura organizacional da IJM? Como ela é gerida e quem são os seus líderes?

JOSÉ MONTEIRO 4:45

A estrutura organizacional da IJM é uma estrutura global. Como eu falei antes, a sede é em Washington, nos Estados Unidos. Estamos presentes, hoje, em mais de 20 países e, cada continente, digamos assim, ou cada grande área onde nós trabalhamos, nós dividimos o mundo em regiões. Então, nós temos uma região que é a região América Latina, onde eu trabalho naturalmente; há uma região que se chama África-Europa - juntos aos dois continentes - e outras regiões: Ásia-Pacífico, Ásia Central e outras regiões. E a grande parte, a maioria desses escritórios da IJM pelo mundo, são escritórios de projetos, de programa. São escritórios operativos! Escritórios que fazem o trabalho junto com os governos daqueles países. Mas, também, nós temos alguns escritórios que são responsáveis pela arrecadação de recursos de fundos, porque, como uma organização não governamental, nós somos financiados através de doações tanto privadas quanto públicas de diversos países. Então, existem alguns países, como Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Singapura, Coréia do Sul, Inglaterra, Austrália, onde nós temos escritórios que cuja missão é arrecadar fundos para nós. Os líderes são os mais variados possíveis. Em geral são líderes nacionais. A maioria das pessoas que trabalham na IJM trabalham em seus próprios países. Eu sou uma exceção, por exemplo, por ser um brasileiro, trabalho em outro país. Mas os líderes globais, por exemplo, são tanto pessoas dos Estados Unidos, mas também pessoas da América Latina, pessoas da Europa também! Então, há uma variedade muito grande de líderes, o que é bom, levando em conta a missão que nós temos, de valorizar as pessoas, independente da sua origem.

ANFITRIÃO 6:25

De que forma e com quais recursos humanos ela atua para promover a justiça em países onde há violações de direitos humanos? E qual a violação com maior recorrência? Crianças e adolescentes ainda são as maiores vítimas?

JOSÉ MONTEIRO 6:45

. Hoje nós somos em volta de:

ANFITRIÃO 9:16

Meu caro, há registros de ameaças ou atentados contra seus membros? Quais são os principais desafios que a IJM enfrenta para garantir a segurança de seus colaboradores em áreas de conflito?

JOSÉ MONTEIRO 9:35

Pela natureza da atividade que a gente exerce, isto é: fortalecer o sistema de justiça, nós trabalhamos com as organizações do setor público. Então, em geral, nos países onde estamos, a gente trabalha com muita gente, mais em especial ou com mais intensidade, com a Polícia, com o Ministério Público, com o Poder Judiciário, com as defensorias públicas e com as instituições que promovem a proteção e a defesa das vítimas e sobreviventes. E isso, naturalmente, gera algumas reações, em especial das quadrilhas. Então, sim, nós temos vivenciado, isso não é algo incomum na IJM.Temos um caso, um triste caso, um tristíssimo caso! Dois ex-integrantes da IJM que foram assassinados na África, no Quênia. Então, esse é um risco inerente da profissão! Para mim, não é nada muito novo, porque como eu passei tanto tempo na polícia, a gente sabe disso é uma consequência desagradável, mas não infrequente! São muitos desafios, mas talvez o principal é a alocação insuficiente de recursos para que a polícia possa investigar, para que o Ministério Público possa acusar, para que o Poder Judiciário possa julgar e para que o governo, o Estado possa fazer o seu trabalho! Outra coisa: uma grande rotação de profissionais! A gente trabalha muito com capacitação de policiais, de promotor de justiça e a gente, muitas vezes, percebe que, depois de fazer uma grande jornada de capacitação para para 200, 300 policiais que se tornam especialistas naquele assunto; um mês, dois meses depois, grande parte deles já não está mais trabalhando na atividade para a qual foi formada! Hoje em dia, nós trabalhamos em alguns países muito conflituosos e o que a gente faz é que em cada escritório da IJM, existe ou existem pessoas responsáveis somente pela segurança dos ativos e do pessoal da IJM naquele país! Temos um apoio irrestrito da organização quanto ao tema de segurança e temos, por outro lado, uma conexão forte com as organizações de Estado nos países onde estamos e também podemos contar com a ajuda de profissionais do Estado quanto a estas ameaças que às vezes aparecem.

ANFITRIÃO:

Como a missão se mantém? Ela recebe financiamento de governos ou de organizações privadas?

JOSÉ MONTEIRO:

Existem algumas maneiras de financiamento, isso não só para a IJM mas, para qualquer organização da sociedade civil. A principal delas é a doação feita de fundos, feita por empresas, feita por pessoas. E existem campanhas de arrecadação de fundos. Temos doadores também, que são doadores permanentes e que, todos os anos, aportam uma quantidade para que nós possamos fazer o nosso trabalho. E, por outro lado, também temos aquilo que nós chamamos de subsídios dos governos que desejam financiar o combate ao crime em determinados países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Departamento de Estado dos Estados Unidos tem, por exemplo, um escritório que se chama JTIP, que é o escritório que lida com o problema do tráfico de pessoas pelo mundo e que tem fundos generosos para utilizar em diversos países. Só que, aí, a gente precisa competir! É como uma licitação, feita pelo governo brasileiro: sai um edital e nós nos candidatamos. Às vezes ganhamos, às vezes perdemos. Mas, é assim que a nossa organização tem se mantido nesses mais de 25 anos de história.

ANFITRIÃO:

Quais são os critérios utilizados pela IJM para escolher os países onde ela atua? É necessária a autorização para tal instalação e permanência naquele território?

JOSÉ MONTEIRO:

Para que a gente escolha os países onde a gente vai atuar, é necessário que haja uma problemática importante de interesse da IJM, segundo a missão da IJM! A missão da IJM, como está escrita, é que nós queremos proteger da violência a 500 milhões de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade em todo o mundo até o ano de dois mil e trinta! E nós fazemos isso não somente através de trabalho direto da IJM mas, em especial, através das alianças que nós fazemos, tanto com o governo como com outras organizações da sociedade civil, para escalar nossa capacidade e que, a partir do fortalecimento do sistema de justiça, nós possamos proteger a essas pessoas. Mas não só isso! Depois de verificar essa situação em um país, nós temos que fazer aquilo que chamamos de estudos de proteção. O estudo de proteção, são estudos tanto quantitativos, através de dados, estatísticas, coleta de dados das fontes governamentais e uma análise desses dados para, a partir daí, a gente estabelecer quatro domínios: o primeiro domínio; o domínio da PREVALÊNCIA CRIMINAL - temos que medir como está a prevalência, como está a situação criminal daquele crime que nós queremos combater naquele país. A segunda dimensão é a dimensão do desempenho do SISTEMA PÚBLICO DE JUSTIÇA: como está a estrutura, os processos, o financiamento do sistema público de justiça para responder a essa prevalência criminal que a gente também estuda. Temos, também, um terceiro ponto, que é um ponto que a gente chama de CONFIANÇA: Como está a confiança das autoridades públicas entre si. Como a polícia se relaciona com o Ministério Público. Como o Ministério Público se relaciona com a Defensoria Pública e por aí vai. Nós sabemos que tanto no Brasil como em muitos países do mundo, não é raro vermos conflitos entre as polícias e os ministérios públicos. Então, o que nós buscamos, é medir qual é esse grau de de confiança ou de desconfiança. E também temos um critério que nós chamamos de DEPENDÊNCIA, na falta de uma tradução melhor, porque isso é uma tradução que vem do inglês, que é a confiança que as pessoas da sociedade têm em seu sistema de justiça. Então, através do estudo dessas quatro dimensões é que nós começamos o trabalho já sabendo qual é a realidade que nos dá, o retrato que nos dá esses estudos! E ao fim do projeto, nós fazemos uma medição, assim como na metade dele também, para verificar como está o progresso, o andamento dos projetos que são baseados nesse estudo de proteção. Então, é claro, necessitamos autorização do país e nós, em todos os países em que estamos, estamos devidamente e legalmente registrados naquele país e para isso necessitamos de todo um processo. No Brasil, esse processo corre no Ministério da Justiça. Em geral não temos tido problema porque, outra vez, o nosso negócio é ajudar o governo! O nosso negócio é apoiar as estruturas de governo que combatem o crime e, em geral, os países têm interesse nessa ajuda.

ANFITRIÃO:

Como a entidade trabalha com as autoridades locais para garantir que as violações de direitos humanos sejam efetivamente combatidas?

JOSÉ MONTEIRO:

É através do trabalho que nós fazemos com as autoridades públicas, no sentido de aprimorar as suas capacidades e aprimorar as capacidades dos organismos públicos nas quais elas trabalham. Então vou dar alguns exemplos: Nós trabalhamos, como já tinha dito antes, muito com capacitação! No projeto que eu liderei na República Dominicana, por exemplo, ao fim do projeto, nós tínhamos capacitado mais de 5000 servidores públicos. Por outro lado, nós estamos sempre olhando para oportunidades de melhoria ou de propor melhorias nos marcos legais. Então, por exemplo, também na República Dominicana, nós impulsionamos um processo de mudança da lei atual contra o tráfico de pessoas, uma lei de dois mil e três. Muito antiga, e isso está em processo no Congresso Nacional Dominicano. Então nós vemos se há debilidades nas leis, nos regulamentos e fazemos um estudo e propomos então mudanças nessas leis ou nesses regulamentos. Outra coisa que nós fazemos é um apoio direto às investigações. Por exemplo: alguns escritórios - isso não acontece em todos os escritórios! Mas, na República Dominicana era desse jeito, eu tinha na minha equipe policiais e eu tinha na minha equipe ex-policiais, investigadores; eu tinha advogadas, tinha as psicólogas, exatamente, para que cada profissional trabalhe com a sua contraparte no governo, buscando melhorar a capacidade dos profissionais do governo através de métodos como a mentoria, que é de estar junto àquela pessoa e ensinando àquelas pessoas melhores práticas porque, outra vez, as pessoas que trabalham conosco são especialistas e muito bons especialistas! Então, através desse fortalecimento... Outra coisa: não somente a capacitação, mas a inclusão no currículo permanente das escolas de formação de sistemas! Por exemplo: no Peru, não há nas escolas de formação nenhuma matéria ou nenhuma disciplina específica de exploração sexual e comercial de crianças! Então, nós começamos a capacitar essas pessoas, esses profissionais. Depois, nós propomos a criação daquilo que eu chamo de "diplomado", que é como uma especialização. E, ao mesmo tempo, nós tentamos incluir de maneira definitiva nas escolas de formação, porque só, outra vez, sustentabilidade! Porque, só dessa maneira, nós garantimos que todos os profissionais que ingressem naquela organização pelo menos tenham passado por noções básicas de combate ao tráfico de pessoas, por exemplo. Então, através de aumentar a capacidade das agências públicas e também aliar-nos a outras organizações da sociedade civil - eu era o Coordenador Geral da Coalizão da Sociedade Civil Contra o Tráfico de Pessoas na República Dominicana, através de todo esse universo de atividades é que nós buscamos que os crimes contra os direitos humanos eles sejam combatidos.

ANFITRIÃO:

Quais são as tecnologias utilizadas pela IJM para identificar casos de injustiça e como se dá o apoio e garantias às vítimas?

JOSÉ MONTEIRO:

Quando a gente fala no uso da tecnologia em benefício dos nossos programas, isso é um leque muito amplo! Eu posso falar, por exemplo, a tecnologia que nós disponibilizamos às polícias na forma de equipamentos de inteligência. Muitas vezes, os países não dispõem de recursos para dotar as suas polícias de equipamento de inteligência que facilitem as investigações. Então, não é raro que nós doemos esses materiais para a polícia. Mas, por outro lado, também nós sempre estamos buscando oportunidades de melhorar os sistemas das agências públicas. Em muitos países, as organizações organizam seus dados de maneira muito precária. Muitas vezes, é uma planilha de Excel! Muitas vezes, em outros repositórios não confiáveis de informações. E aí eu te conto uma experiência que eu tive: eu fui assaltado na República Dominicana, em Santo Domingo! Entraram no meu apartamento, levaram um monte de coisas e eu fui até a delegacia para fazer o registro da ocorrência. Na República Dominicana, se chama Destacamento Policial e, chegando lá, o policial que me atendeu, abriu um livro e começou a me perguntar, escrevendo com uma caneta no livro. Isso pode ser uma fonte de informação? Pode! Mas é muito difícil! Porque é muito difícil extrair qualquer estatística de um livro! Por isso que nós investimos em sistemas de gestão, ou de investigações, ou de acusações para facilitar o trabalho dessas pessoas e para atender ou para melhorar também a atenção às vítimas. O foco do nosso trabalho, a razão pela qual a nossa organização existe é cuidar das vítimas e sobreviventes! E a gente faz tudo isso, esse empoderamento e esse fortalecimento do sistema, exatamente para que a vítima e o sobrevivente seja melhor atendida. E, por outro lado, para que eventuais pessoas que podiam ser vítimas e sobreviventes não serão mais, por causa do trabalho do sistema de justiça! Então, é mais ou menos dessa maneira que nós atuamos no escopo tecnológico.

ANFITRIÃO:

Como a missão colabora com outras organizações que trabalham para promover a justiça social e quais os critérios de avaliação do sucesso de suas intervenções? Podes compartilhar um exemplo de casos de sucesso ou impacto alcançado?

JOSÉ MONTEIRO:

Na IJM, nós nos consideramos, institucionalmente - essa é uma mensagem institucional! Nós nos consideramos construtores de pontes, exatamente porque, como te dizia antes, a nossa missão é proteger a 500 milhões de pessoas pelo mundo e a única maneira de escalar isso é trabalhando e colaborando com outras organizações. Então nós estamos presentes em diversas plataformas da sociedade civil pelo mundo! Nós trabalhamos em quase todos os países e com o que a gente chama de trabalho indireto de casos, que envolve o trabalho de outras organizações que a gente financia, que a gente acompanha e supervisiona o trabalho. E nós - como te dizia, a minha experiência pessoal foi liderando essa coalizão de organizações. Eram 19 organizações, tanto dominicanas como internacionais - como a IJM - e, lá, a gente podia discutir tanto aspectos mais doutrinários da luta contra o crime, mas também, fazer muita - é o que a gente chama de incidência política governamental - fazer pressão nos governos em bloco, em bloco de organizações, buscando obter um benefício para as pessoas que nós tentamos proteger. Um exemplo que eu te dou é de um projeto que finalizou a menos de um ano na República Dominicana e que, comparando os resultados daquele estudo de proteção que eu comentei com você antes e que foi feito no começo do projeto, no final do projeto, nós comprovamos e ajudamos o governo a reduzir casos de exploração sexual e comercial de crianças em 78%! Quando a IJM chegou na República Dominicana, em dois mil e treze, você via essas meninas tristes, maquiadas, sem outras oportunidades na vida, sendo exploradas em muitos lugares! Em qualquer lugar, nas esquinas, nos bares, até em lava-jatos tinha isso! E, hoje não é mais tão fácil! Hoje, você não vê com mais facilidade, exatamente porque a polícia está mais preparada, está mais atenta e possui os melhores meios para combater esse tipo de crime.

ANFITRIÃO:

Monteiro; quais são as principais estratégias de sensibilização da IJM para conscientizar a opinião pública sobre a importância da justiça social? De que forma os Honoráveis Ouvintes podem se envolver com o propósito da IJM?

JOSÉ MONTEIRO:

Um dos pilares do trabalho da IJM é, exatamente, tentar elevar a consciência das pessoas a respeito dessas problemáticas! Em geral, crimes contra os direitos humanos em alguns países fazem parte da paisagem. Se nós pensarmos, por exemplo, nas menores de idade expostas à prostituição, isso aí em muitos países e até em algumas cidades do Brasil, isso faz parte da paisagem! Isso não é estranho! E o que nós buscamos fazer, é mudar essa opinião, explicando à sociedade dos malefícios da exposição desses menores de idade nesses ambientes. E nós fazemos isso através de diversas campanhas, através de eventos de conscientização que fazemos. Eu tinha, na República Dominicana, uma coluna semanal em um jornal, onde eu escrevia sobre sobre esses assuntos - muitas vezes, criticando o governo! Muitas vezes, tentando explicar para a sociedade algum ponto mais complexo e doutrinário dos assuntos que a gente trabalha e, bom, as pessoas que querem colaborar com nosso trabalho podem entrar no nosso site: www.ijm.org e, lá, tanto podem conhecer mais daquilo que nós fazemos - o site está muito mais em inglês e espanhol! Não tem nada em português, porque nós não estamos em nenhum país onde se fala português e, no próprio site, existe um canal para doações e a mensagem que eu queria deixar para as pessoas que eventualmente queiram ajudar a nossa missão é que a IJM é uma organização séria! Muito séria! Acompanhada e fiscalizada pelo governo dos Estados Unidos e por outros organismos de avaliação externa! Eu sei que, no Brasil, muitas vezes, há essa tendência de crer que as organizações governamentais não fazem um trabalho direto, são desonestas, são corruptas! Eu não vou negar que existe! Como em toda atividade humana existe esse problema! Mas, a Missão Internacional de Justiça - e eu não estaria aqui se não fosse assim - eu deixei a Polícia Federal para estar aqui hoje! Então, quem quiser colaborar, colabore com o coração tranquilo, porque cada centavo que é destinado à IJM está destinado para exatamente essa luta em favor das pessoas que vivem em pobreza e contra as pessoas que buscam cometer crimes contra essas populações!

ANFITRIÃO:

De que maneira ocorre o acesso aos recursos legais e financeiros pelas vítimas de violação de direitos humanos para que elas se recuperem dos danos sofridos?

JOSÉ MONTEIRO:

Um dos problemas dos sistemas de justiça da América Latina é que, em geral, a vítima e sobrevivente, a vítima não é a figura central do processo! A figura central do processo é o criminoso. Porque? Porque existe um cuidado ou uma necessidade, talvez, de tratar o criminoso segundo todas as garantias legais. Mas, muitas vezes se esquece da vítima! Traumatizada e vulnerável que, muitas vezes, é retraumatizada na polícia e no Ministério Público! Nós trabalhamos com um conceito que nós chamamos de "cuidar e formar do trauma", que é a metodologia que possibilita ao profissional que tem esse contato com essa vítima que a trate de maneira adequada, que conheça as técnicas para não retraumatizar essa pessoa, o que acontece muito! Eu, no ano passado, chegando de uma operação de resgate de algumas vítimas de exploração sexual de crianças e de tráfico de pessoas, cheguei no local e havia um policial que tinha algemado uma vítima porque pensava que - "bom, se ela está aqui,é por que ela quer!" Não tem essa dimensão de que, muitas vezes, a pessoa ela é, sim, um alvo de exploração! Então, é uma das muitas preocupações que nós temos com o sistema de justiça é a retribuição! Não somente a retribuição penal com a pessoa que cometeu o crime, o perpetrador daquele crime mas, também, uma reparação econômica para a vítima! Porque isso é muito importante! A reparação tem que ser integral! É muito importante a condenação do criminoso! Porque isso faz parte do processo de restauração da vítima mas, também, o Estado tem que garantir que essa vítima disponha de meios para superar esses atos tão violentos que foram feitos contra si. Então, a reparação integral, necessariamente, passa pela reparação econômica e é o que nós buscamos, não só na esfera judicial. Nós temos um trabalho com os governos também, buscando empregabilidade para essas pessoas, acesso a postos de trabalho. E essa é, tem sido e será uma preocupação nossa!

ANFITRIÃO:

Meu caro; caminhando para o final de nossa conversa, agradeço a sua participação e desejo que a Missão obtenha cada vez mais êxitos nos seus propósitos! Deixo este espaço para suas considerações finais. Grande abraço e muito obrigado!

JOSÉ MONTEIRO:

Meu amigo! Eu que tenho que agradecer pela oportunidade de participar! Eu queria somente deixar essa mensagem aos seus ouvintes: Os crimes contra os direitos humanos estão em toda parte! Muitas vezes, as pessoas assistem um filme, como esse "Sons da Liberdade", que é um filme interessante, que põe esses sistemas em evidência e provocam discussões! E é importante provocar discussões na sociedade de temas tão difíceis como esse. Mas, nós não podemos ter uma ideia de que os crimes contra os direitos humanos não ocorrem perto de nós. Às vezes acontece em nossa esquina, às vezes acontece no nosso vizinho. Então, a mensagem que eu deixo é que nós temos que levar nossa voz em benefício a essas pessoas. São pessoas que muitas vezes não têm a condição de defender-se. E nós temos a responsabilidade, como sociedade, de tentar fazer com que todos os membros dessa sociedade possam viver de maneira digna, de maneira tranquila, de maneira não violenta. E isso passa necessariamente pela necessidade de que a sociedade esteja envolvida nisso. Aquele conceito de que em briga de marido e mulher, por exemplo, não se mete a colher, isso é muito ultraspassado! Em briga de marido e mulher - em geral, a mulher é a vítima! E esse marido tem que ser penalizado! Então, não fechemos os olhos! Não nos distraiamos em relação a coisas tão graves que provocam sofrimentos tão grandes, em especial nas pessoas pobres! Porque a falta de recursos, a falta de conhecimento, a falta de informação, muitas vezes, faz com que as pessoas sequer disponham da informação de onde devem ir quando sofrem um tipo de violência! Então, nós temos que contar com a sociedade! Contar com você que está me ouvindo para ajudar essas pessoas e ajudar a Missão que nós tomamos para nós mesmos aqui na IJM, de defender essas pessoas. Muito obrigado pela oportunidade! Estou aqui à disposição e sempre que for necessário, possível e até que todos estejam livres! Um abraço!

ANFITRIÃO:

Honoráveis Ouvintes! Sob o patrocínio da Hex 360, uma empresa brasileira especializada em gerar informação de valor, este foi mais um episódio do Hextramuros Podcast! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião e, no conteúdo de hoje, conversei com José Monteiro, Vice-presidente Regional da IJM - Missão Internacional de Justiça.

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Washington Clark Santos

Produtor e Anfitrião.
Foi servidor público do estado de Minas Gerais entre 1984 e 1988, atuando como Soldado da Polícia Militar e Detetive da Polícia Civil.
Como Agente de Polícia Federal, foi lotado no Mato Grosso e em Minas Gerais, entre 1988 e 2005, ano em que tomou posse como Delegado de Polícia Federal, cargo no qual foi lotado em Mato Grosso - DELINST -, Distrito Federal - SEEC/ANP -, e MG.
Cedido ao Ministério da Justiça, foi Diretor da Penitenciária Federal de Campo Grande/MS, de 2009 a 2011, Coordenador Geral de Inteligência Penitenciária, do Sistema Penitenciário Federal, de 2011 a 2013.
Atuou como Coordenador Geral de Tecnologia da Informação da PF, entre 2013 e 2015, ano em que retornou para a Superintendência Regional em Minas Gerais, se aposentando em fevereiro de 2016. No mesmo ano, iniciou jornada na Subsecretaria de Segurança Prisional, na SEAP/MG, onde permaneceu até janeiro de 2019, ano em que assumiu a Diretoria de Inteligência Penitenciária do DEPEN/MJSP. De novembro de 2020 a setembro de 2022, cumpriu missão na Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, no Ministério da Economia e, posteriormente, no Ministério do Trabalho e Previdência.
A partir de janeiro de 2023, atua na iniciativa privada, como consultor e assessor empresarial, nos segmentos de Inteligência, Segurança Pública e Tecnologia.