Episode 40

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11th Aug 2023

Maconha: Remédio ou Veneno?

Inaugurando a nova temporada, confira este episódio, cujo tema é o uso medicamentoso da maconha, em uma entrevista com DEUSIMAR GUEDES, policial federal aposentado e psicólogo.

Saiba mais!

  • Maconha: Anvisa proíbe importação de cannabis para uso medicinal - Na legislação atual, que a Anvisa cumpre, a maconha é considerada como proscrita, exceto para fins médicos e científicos, de forma controlada e supervisionada. Ou seja: isso não impede a realização de pesquisas e utilização com finalidade terapêutica, sendo possível, inclusive, o registro de medicamento à base de substância e/ou planta proscrita.



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Transcript

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Anfitrião: Honoráveis Ouvintes!

Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros Podcast!

Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião!

No conteúdo de hoje, sob o patrocínio da Hex 360, uma empresa comprometida com a exatidão, os conduzirei em uma palpitante conversa com DEUSIMAR GUEDES, Agente de Polícia Federal, aposentado, autor de diversos livros e artigos que abordam cientificamente aspectos relacionados à Cannabis Sativa, mais popularmente conhecida como maconha, com ênfase em aspectos que envolvem a utilização de derivados dessa planta para fins medicamentosos.

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Anfitrião: Saudações fraternas, Deusimar!

Agradecendo imensamente por você ter aceitado o convite para participar deste episódio, dou-lhe as boas-vindas e, seguindo o protocolo de nosso podcast, peço que se apresente por favor:

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Deusimar: Olá, Washington! Grande abraço a você! Parabéns pelo valoroso programa! Quero dizer da minha satisfação de estar participando desse seu importante canal educativo!

O meu nome é DEUSIMAR GUEDES. Eu sou agente especial da Polícia Federal, aposentado e, também, sou advogado e psicólogo, sendo especialista em criminologia e psicologia criminal, onde o meu dia a dia, nos últimos anos, tem sido exatamente lidar com essa temática da segurança pública e, mais especialmente, em relação à prevenção, à educação sobre drogas e, também, o tratamento de usuários e dependentes químicos. Eu repito, é uma satisfação estar aqui, participando contigo desse valoroso, dessa valorosa discussão em relação ao uso medicinal da maconha ou de derivados dessa planta.

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Anfitrião: Meu caro, quais são as diferenças entre o consumo recreativo da maconha e o uso de seus componentes para fins medicinais?

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Deusimar: Olha, eu acho que há uma diferença muito grande entre o uso recreativo da maconha e o uso de seus componentes para fins medicinais. O uso recreativo na forma fumada por essa erva contém os mesmos componentes cancerígenos que o [00:03:00] tabaco, por exemplo, quer dizer, então, ela é extremamente tóxica. Então, ela fumada, é venenosa! Ela é tóxica! Agora, a extração de alguns componentes dessa substância na quantidade correta para aquelas pessoas que estão precisando, especialmente o CBD, o canabidiol, que é a que tem sido mais estudada, então, tem apresentado efeitos promissores na farmacologia. Mas, como eu disse, alguns componentes extraídos da droga, não uma droga fumada! Aí é uma diferença muito grande! Inclusive, uma é venenosa, a outra é aparentemente medicamentosa. Gosto sempre de fazer um comparativo com, por exemplo, o ópio. O ópio é uma substância extremamente danosa ao ser humano! Mas, alguns componentes do ópio, como a morfina, a codeína, tem lá o uso terapêutico. Então, com a maconha é a mesma coisa.

Maconha fumada é uma coisa é tóxica! Já, alguns componentes, especialmente o CBD, que é o mais estudado até o momento, tem apresentado efeitos promissores na farmacologia.

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Anfitrião: Quais são os principais componentes da Cannabis e como eles podem ser usados terapeuticamente?

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Deusimar: A Cannabis, atualmente, já foram descobertos pelo menos cerca de quatrocentos compostos dessa planta, já foram encontrados até o momento. Dentre esses quatrocentos, aproximadamente, compostos, pelo menos sessenta, são canabinoides. Esses são os que estão sendo mais estudados e, dentre esses sessenta, pelo menos o canabidiol e o tetrahidrocanabidiol, quer dizer, o CBD e o THC, como são comumente conhecidos, têm sido os mais estudados pela ciência na atualidade, exatamente por terem apresentado efeitos farmacológicos promissores. Mais especificamente, o CBD, o Canabidiol e, eles, geralmente, nessa forma medicamentosa - vamos dizer – se apresentam sempre na forma de óleos ou podem vir também na forma de cápsulas, de comprimidos, de sprays. Mas, o mais comum, tem sido na forma de extratos de óleo e tem sido usado em pacientes pra diversos males, principalmente para epilepsias graves, mas, também, em pacientes com autismo, com ansiedade, com dores crônicas, fibromialgia, problemas de insônia. Esses são os males onde esses componentes têm sido mais comumente utilizados e que tem apresentado efeitos promissores. Como as pesquisas são muito recentes, ninguém sabe até onde, seja os efeitos benéficos, seja os efeitos colaterais. Ainda existem muitas dúvidas, mas, repito, os efeitos são promissores.

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Anfitrião: O que os estudos científicos apontam sobre os efeitos do canabidiol e do tetra hidrocanabinol no tratamento de doenças?

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Deusimar: O que pode se dizer é que até o momento não existe nenhum tratado científico que ateste os componentes da maconha como um medicamento seguro para a cura de doenças. Contudo, muitos estudos científicos, especialmente com esses dois canabinóides, especialmente o canabidiol, o CBD, tem conseguido resultados muito promissores no que diz respeito a minimizar sintomas desagradáveis e penosos de certas doenças e ou efeitos colaterais de medicamentos utilizados por pacientes, principalmente pacientes com Aids e CA, com câncer, em estados terminais. Também, repito, o canabidiol tem apresentado bons resultados para medicar pessoas com ansiedade moderada a grave, com insônias e, também, com a fibromialgia. Então, isso são alguns dos males em que esses componentes da cannabis tem sido testado com certa esperança, vamos dizer assim.

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Anfitrião: Como o canabidiol tem sido empregado na área de neurologia e psiquiatria? Que avanços são mais expressivos nas pesquisas acerca do tratamento de epilepsias graves?

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Deusimar: Como já citado anteriormente, o canabidiol, CBD, é o canabinóide que até o momento tem apresentado resultados farmacológicos mais promissores, especialmente nas áreas da neurologia e da psiquiatria. Seu uso mais comum e há mais tempo tem sido, exatamente, para medicar pessoas portadoras de epilepsias graves. E, embora não cure a doença, é preciso que se diga, normalmente, os pacientes, após o uso desse canabinoide, eles têm apresentado uma diminuição significativa no número de convulsões, trazendo com isso uma melhora na qualidade de vida dessas pessoas. E é claro que isso é um resultado muito promissor, haja visto que

outros medicamentos, muitas vezes, não têm conseguido esse efeito.

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Anfitrião: Quais são as evidências científicas atuais que justificam o uso do canabidiol em doenças como autismo, ansiedade, dor crônica e fibromialgia?

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Deusimar: A realidade é que podemos dizer que até o momento, as evidências científicas são duvidosas ou, até mesmo, elas inexistem! Mas, repito, muitos estudos têm apresentado resultados promissores também para estes males, não como cura - é bom que se diga - não como cura, mas, sim, para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas portadoras desses males. E, assim sendo, a própria Organização Mundial da Saúde recomenda e aceita a utilização de medicamentos mesmo sem a devida evidência científica, desde que não apresente efeitos colaterais significativos. O Conselho Federal de Medicina aqui no nosso país autoriza a prescrição de tais substâncias, desde que de forma compassiva. Ou seja, quando outros medicamentos já conhecidos e aprovados não estiverem promovendo os resultados desejados e esperados.

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Anfitrião: Quais são os efeitos colaterais mais comuns associados ao uso de medicamentos à base de canabinoides e como eles podem ser gerenciados e diminuídos ao longo do tratamento?

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Deusimar: Os efeitos colaterais mais alegados por alguns pacientes são exatamente a tontura, alterações do apetite, depressão leve ou piora deste mal naquelas pessoas que já são portadoras, certa desorientação, humor eufórico, amnésias de curto prazo – esquece, a memória de curto prazo fica bastante prejudicada em alguns casos - também, alguns desequilíbrios, alteração da fala - com a fala um pouco embolada - ou falta de energia etc. Contudo, tais efeitos geralmente tendem a diminuir. O que atestam, o que narram os pacientes é que esses efeitos tendem a diminuir logo após as primeiras semanas, com o passar do tempo e a consequente, certamente, é porque acontece uma adaptação do organismo do paciente a essa droga. Mas é importante que esses efeitos desagradáveis sejam acompanhados de perto e assiduamente pelo profissional da saúde para a possível necessidade de adaptação da dosagem correta para cada caso, bem como para a avaliação desses efeitos, de como são provocados, porque muitas vezes podem ser também, não só, pelos efeitos do componente da maconha, mas por interações medicamentosas, especialmente, é o que a maioria dos estudos tem demonstrado, às vezes a interação com outros sedativos, os benzodiazepínicos, com os opioides e etc. E o paciente pode estar também tomando outros medicamentos, e essa interação, esse consórcio desses medicamentos com os derivados da cannabis podem trazer esses efeitos colaterais. Então, são sintomas, são aspectos que precisam ser cuidadosamente analisados de forma assídua pelo profissional da saúde.

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Anfitrião: Quais são os desafios enfrentados pelos pesquisadores devido à ilegalidade da maconha em muitos países?

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Deusimar: Sem sombra de dúvidas, o fato de a maconha ser considerada ilegal na maioria dos países do mundo dificulta o avanço das pesquisas. Mas eu acredito que o maior entrave ainda é o preconceito enraizado na sociedade em relação a essa droga. Não só na sociedade em geral, nas pessoas do povo, vamos dizer assim, mas, também, nos próprios especialistas, nos próprios profissionais.

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Também, as crenças ideológicas são as responsáveis por influenciar e impedir, de certa forma, esse avanço desses estudos, dessas pesquisas. Como eu disse, os próprios pesquisadores e patrocinadores dessas pesquisas também sofrem dessa contaminação ideológica, desse preconceito em relação à substância, exatamente e, principalmente, pelo fato dela ser ilícita, de ser ilegal, em quase todos os países do mundo.

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Anfitrião: As recomendações da Organização Mundial da Saúde em relação à cannabis medicinal, no geral, são seguidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária? Em que estágio se encontra a regulamentação do uso e a distribuição de medicamentos derivados da cannabis no Brasil?

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Deusimar: [00:14:00] A Anvisa tem seguido fielmente a maioria das recomendações da OMS, da Organização Mundial de Saúde e, em relação a autorizações para utilização de componentes da maconha na farmacologia, não tem sido diferente. Já existe autorização inclusive dessa agência, para a venda de pelo menos quinze a vinte remédios com componentes da Cannabis, especialmente com o CBD e o THC. A indústria farmacêutica, por já possuir outros medicamentos com finalidades similares, é que não tem mostrado, assim, tanto interesse em relação a isso. É o que me parece! Mas, a Anvisa tem seguido fielmente essas recomendações da Organização Mundial de Saúde.

Aliás, isso é uma tradição, até aqui, do nosso país.

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Anfitrião: Porque o Conselho Federal de Medicina autoriza o uso compassivo do canabidiol apenas quando outros tratamentos não surtem efeito?

Deusimar: O Conselho Federal de Medicina tomou essa precaução de autorizar o uso compassivo, que é, exatamente, quando outros medicamentos já conhecidos e testados não estiveram demonstrando os resultados esperados. Então, nesses casos é que o Conselho Federal de Medicina autoriza a prescrição, embora, devo dizer, que muitos profissionais, muitos médicos, já tem prescrito esses extratos, esses óleos à base de maconha, medicamentos, já como primeira opção. Não têm obedecido essa orientação do Conselho Federal de Medicina, exatamente por não haver, ainda, evidências científicas seguras em relação ao canabidiol ou mesmo o THC, como medicamento confiável e seguro. Então, as pesquisas são incipientes. Elas são ainda muito primárias. Então, ninguém sabe ainda! A gente ainda desconhece, a Ciência desconhece tanto os efeitos benéficos que poderão advir dessas substâncias, como também, e especialmente, os efeitos desagradáveis, efeitos colaterais. Daí, esse cuidado do Conselho Federal de Medicina.

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Anfitrião: Qual é a importância do acompanhamento médico durante o início do uso de medicamentos à base de canabinoides e quais as perspectivas para o futuro da pesquisa em cannabis medicinal?

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Deusimar: A importância desse acompanhamento médico é indispensável, haja vista tratar-se de uma droga pouco conhecida, ainda, como já falamos, em relação aos possíveis efeitos benéficos ou mesmo colaterais, desagradáveis.

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Em relação às perspectivas das pesquisas, tudo vai depender da minimização desse [00:17:00] preconceito ainda reinante sobre a maconha, pela sociedade como um todo e até pelos próprios profissionais. Mas, acredito que os estudos devem avançar, sim, seja para comprovar ou para negar a importância dos componentes da cannabis para à saúde pública.

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Anfitrião: Entendes como possível a garantia de que os resultados das pesquisas permaneçam embasados em evidências científicas sólidas?

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Deusimar: Acredito sim! Acredito, sim, que os avanços dessas pesquisas num futuro próximo chegarão a um estágio em que as evidências científicas irão atestar a eficácia, ou não, de componentes dessa planta como medicamento. Então, acho que tem havido uma mobilização quase que no mundo todo, uma flexibilização também em relação a isso tudo, sejam as pesquisas, seja inclusive, ao uso recreativo - que eu sou contra - mas, tem havido essa flexibilização e, tudo isso, de certa forma, deve contribuir para o avanço dessas pesquisas e, claro, para chegar a um resultado, seja a favor ou contra.

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Anfitrião: Na prática clínica, quais são os próximos passos para a implementação segura e eficaz da cannabis medicinal?

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Deusimar: Isso vai depender exatamente do avanço das pesquisas e do resultado dessas pesquisas, desses estudos. Devo dizer que um dos entraves com o momento enfrentado pelos estudos científicos em geral, é que a ciência, no mundo todo, não só no Brasil, geralmente, tem muita dificuldade em influenciar a política. Não sei por que, mas existe esse entrave, essa dificuldade comum da política: aceitar aquilo que é aconselhado pela ciência! E as decisões governamentais, geralmente, elas são muito mais embasadas em crenças e interesses ideológicos do governante de plantão e, também, às vezes, de interesses até financeiros do que naquilo que a Ciência indica, naquilo que a Ciência aconselha.

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Anfitrião: Caminhando para o final de nossa conversa, agradeço imensamente pela tua esclarecedora participação neste episódio e coloco este espaço para suas considerações finais. Muito obrigado e grande abraço!

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Deusimar: Eu agradeço a você, o convite para participar desse importante evento educativo e me coloco à disposição, sempre que necessário.

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Para mim é uma satisfação, isso é uma discussão que não sai de pauta, em relação à maconha, seja com fins recreativos, seja com fins medicinais. É uma discussão que há muito não sai de pauta. É um assunto que eu gosto de discutir porque eu acho que é do interesse da sociedade como um todo. Então, repito, eu que agradeço a honra de ter participado com você e me coloco sempre à disposição para essas discussões de interesse social. Forte abraço!

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Anfitrião: Honoráveis Ouvintes!

Sob o patrocínio da Hex 360, uma empresa brasileira que alia experiência e inovação para o alcance da confiança e segurança de seus clientes, este foi mais um episódio do Hextramuros Podcast!

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Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião e, no conteúdo de hoje, conversei com DEUSIMAR GUEDES, abordando nuances acerca do uso medicinal de derivados da maconha.

Inscreva-se em nosso website: www.hextramurospodcast.com! Saiba mais sobre este conteúdo, tenha acesso a novidades e participe de promoções exclusivas!

Pela sua colaboração, muito obrigado e até o próximo episódio!

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About the Podcast

Hextramuros Podcast
Vozes conectando propósitos, valores e soluções.
Ambiente para narrativas, diálogos e entrevistas com operadores, pensadores e gestores de instituições de segurança pública, no intuito de estabelecer e/ou ampliar a conexão com os fornecedores de soluções, produtos e serviços direcionados à área.
Trata-se, também, de espaço em que este subscritor, lastreado na vivência profissional e experiência amealhada nas jornadas no serviço público, busca conduzir (re)encontros, promover ideias e construir cenários para a aproximação entre a academia, a indústria e as forças de segurança.

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Washington Clark Santos

Produtor e Anfitrião.
Foi servidor público do estado de Minas Gerais entre 1984 e 1988, atuando como Soldado da Polícia Militar e Detetive da Polícia Civil.
Como Agente de Polícia Federal, foi lotado no Mato Grosso e em Minas Gerais, entre 1988 e 2005, ano em que tomou posse como Delegado de Polícia Federal, cargo no qual foi lotado em Mato Grosso - DELINST -, Distrito Federal - SEEC/ANP -, e MG.
Cedido ao Ministério da Justiça, foi Diretor da Penitenciária Federal de Campo Grande/MS, de 2009 a 2011, Coordenador Geral de Inteligência Penitenciária, do Sistema Penitenciário Federal, de 2011 a 2013.
Atuou como Coordenador Geral de Tecnologia da Informação da PF, entre 2013 e 2015, ano em que retornou para a Superintendência Regional em Minas Gerais, se aposentando em fevereiro de 2016. No mesmo ano, iniciou jornada na Subsecretaria de Segurança Prisional, na SEAP/MG, onde permaneceu até janeiro de 2019, ano em que assumiu a Diretoria de Inteligência Penitenciária do DEPEN/MJSP. De novembro de 2020 a setembro de 2022, cumpriu missão na Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, no Ministério da Economia e, posteriormente, no Ministério do Trabalho e Previdência.
A partir de janeiro de 2023, atua na iniciativa privada, como consultor e assessor empresarial, nos segmentos de Inteligência, Segurança Pública e Tecnologia.