Episode 49

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Published on:

13th Oct 2023

Comportamento Não Verbal - Desvendando a Credibilidade Oculta. Parte 2

Neste episódio, sob o patrocínio da Hex 360, uma empresa comprometida com a exatidão, concluo a entrevista com a policial penal federal ANA PAULA BOTELHO, especialista em desvendar segredos por meio da análise comportamental.

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Transcript

ANFITRIÃO 0:15

Honoráveis Ouvintes! Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros Podcast! Sou o Washington Clark dos Santos, seu anfitrião! No episódio de hoje, sob o patrocínio da Hex 360, uma empresa que transforma dados em informação e em soluções personalizadas. Concluiremos nossa conversa com a policial penal federal Ana Paula Botelho, a quem reproduzo os meus agradecimentos por participar deste episódio e se disponibilizar, ainda em seu ambiente de trabalho, a desvendar segredos do comportamento não verbal!

Considerando, então, as circunstâncias de sua atividade profissional, existem situações específicas em que é mais desafiadora aplicar a análise do comportamento não verbal? Como você supera esses desafios?

ANA PAULA 1:22

Sim, há momentos que para o analista que faz análise do comportamento, é mais difícil aplicar isso. No meu caso, quando eu tenho alguma crença, algum conceito muito formado sobre determinado assunto. Então, lidar às vezes com um outro indivíduo que por acaso tem algum comportamento ou cometeu algum crime do qual eu posso ter um pré conceito formado muito forte, é mais difícil analisar o comportamento desse indivíduo sem pré julgar ele. E esses pré julgamentos que nós fazemos, baseados em vieses, muitas vezes, podem nos tornar cegos! Uma forma que eu tento superar isso é sempre colocar em mente, pelo menos, que esses vieses e esses pré conceitos existem durante a análise comportamental e, se tornar consciente de que eles podem influenciar a minha observação de um indivíduo, de uma outra fonte humana do momento em que eu estou interagindo com essa pessoa, é uma forma de tentar superar esses pré conceitos que nós formamos, a fim de que a gente possa ter uma análise mais isenta de pré julgamentos que podem nos tornar a ter julgamentos que estão longe de estarem precisos.

ANFITRIÃO 2:39

Além de analisar comportamentos em indivíduos específicos, ocorrem situações em que você também é requerida para avaliar a dinâmica de grupos em ambientes prisionais? E, nestes casos, o grau de dificuldade é superior proporcionalmente?

ANA PAULA 3:00

Sim! Existe a possibilidade sim, da gente ser requerida para fazer análise de comportamentos de grupos, não só de indivíduos. Quando nós estamos falando de comportamento, nós temos, pelo menos, 3 grandes grupos do qual nós estudamos comportamento. Nós podemos estudar o comportamento de determinada cultura, de determinado grupo ou de determinado indivíduo. Essa análise comportamental ela pode claramente ser feita para observação de dinâmicas de grupos em ambientes prisionais, presos ligados a algum tipo de organização, criminosas ou faccionados, ou determinado público alvo, às vezes ligado a um determinado preso, como ocorre por exemplo, nas ações de desinformação e propaganda, que são ações que são utilizadas pelo setor de inteligência. Nós fazemos a análise e descrição de comportamentos nas redes sociais para aplicação dessas ações, como eu falei, a desinformação e a provocação, por meio do qual nós utilizamos essa ciência que trata dos estados e processos mentais do comportamento dos seres humanos, das interações com o ambiente físico e social. E, a partir dessa análise, nós podemos traçar um conjunto de características de alguns ambientes prisionais ou grupos de presos em determinados contextos. Claro, essa observação de grupos acaba sendo um pouco mais difícil porque envolvem conceitos de psicologia de grupos, de como influenciar o comportamento de pessoas em grupos maiores, envolve o estudo da organização e do funcionamento das sociedades humanas e essas leis que regem essas relações sociais entre os indivíduos. Então, apesar da dificuldade ser um pouco maior, porque envolve mais conhecimento, não só da psicologia, mas às vezes da própria sociologia, é possível fazer com uma dificuldade um pouco maior.

ANFITRIÃO 5:02

Em que dimensão a diversidade cultural de nosso território se constitui obstáculo para a aplicação das técnicas para a análise do comportamento não verbal?

ANA PAULA 5:16

Nós temos aí uma diversidade cultural no nosso território enorme! Há que se entender, quando nós estamos trabalhando com a aplicação de alguma técnica de análise comportamental, há que se ter um pouquinho de conhecimento sobre o ecossistema social do qual você está analisando uma pessoa ou um determinado público alvo. Nós vivemos numa sociedade em que em nosso ambiente, nós convivemos com diversos grupos; sinergéticos, antagônicos! É um ecossistema bastante diversificado e o estudo desse ecossistema social e o comportamento coletivo é super importante quando nós estamos trabalhando com esses comportamentos, sejam de cultura, de grupos, de indivíduo. Não só para a gente poder entender melhor a situação em que aquele indivíduo ou aquele grupo se encontra, mas também para, às vezes, motivar ele no processo de fala dos indivíduos ou mesmo traçar alguns indícios de personalidade. Há que se considerar sempre esse grande ecossistema, essa grande diversidade cultural do qual nós vivemos, para que seja aplicado uma boa técnica de análise do comportamento não verbal. Até porque, quando nós estamos falando de comportamento, não existe um padrão universal onde a gente possa encaixar pessoas em caixinhas certinhas. Então, é importante a gente entender todas essas regras que regem esse nosso grande ecossistema social.

ANFITRIÃO 6:55

Visando maior eficácia, entendes como relevante a integração de ferramentas tecnológicas, tais como leitura facial e inteligência artificial, com suas habilidades de análise do comportamento não verbal?

ANA PAULA 7:13

Bom, em relação à utilização e integração de ferramentas tecnológicas, eu acredito ser extremamente viável o emprego dos meios eletrônicos. Eles corroboram com o trabalho do analista do comportamento humano. Eles não substituem o analista, mas eles ajudam o analista. Por exemplo, alguns meios eletrônicos podem com muito mais facilidade mapear um canal que nós temos chamado o Canal Psicofisiológico da Comunicação, porque é muito difícil a gente saber que tipo de alterações psico fisiológicas estão acontecendo dentro daquele indivíduo! Às vezes a gente tem um sinal audível ou visível de que alguma alteração ou stress ou alguma alteração psicofisiológica está acontecendo, mas, a gente não sabe pontuar exatamente! O emprego do meio eletrônico vem nesse sentido, de corroborar com o analista nessa observação. Então, assim, eu acredito que é mais eficiente, apesar de que em alguns cenários que nós temos na prática do profissional de inteligência, pode ser que algumas ferramentas não sejam tão fáceis de serem aplicadas mediante o contexto onde se dá a ação, mas elas corroboram com as habilidades de análise do comportamento.

ANFITRIÃO 8:41

É possível ao indivíduo encobrir sinais de que já foi submetido a treinamento para ocultar sinais não verbais suspeitos? E como a análise do comportamento não verbal pode auxiliar nas entrevistas e em interrogatórios no âmbito de toda a segurança pública?

ANA PAULA 9:03

O que é importante a gente salientar é que as emoções, elas podem ser úteis na avaliação da verdade, apesar de apenas Pinóquio ter um sinal que se apresentava quando mentia, é importante a gente salientar que quando as pessoas estão mentindo, por exemplo, algo que é útil quando a gente precisa chegar à verdade, digamos assim, é que as mentiras podem provavelmente estarem ligadas às emoções e, quando a pessoa está tentando ocultar algum vazamento da verdade, é muito difícil, quando essa fabricação ou omissão está ligada a algum tipo de emoção, porque nós não conseguimos fingir com muita credibilidade emoções dos quais nós não estamos sentindo! O que nós sabemos também, que é muito útil quando a gente precisa chegar à verdade, é que as mentiras também requerem maior esforço cognitivo quando comparada a uma mensagem verdadeira. Também, as mentiras podem provocar excitação ou fortes emoções nos indivíduos, e elas também podem provocar medidas de auto controle demasiado no comportamento de um mentiroso, porque ele tem que estar a todo momento querendo justificar ou de alguma forma dar mais detalhes, a fim de convencer daquela história! E isso pode se apresentar como algum tipo de vazamento, mas é muito difícil, mesmo com treinamento, que a pessoa consiga ocultar todos os tipos de vazamento, principalmente se essa ocultação ou falsificação de informação - que a gente chama da mentira - para alterar o processo decisório de uma pessoa, se ela estiver ligada a algum tipo de emoção, aí se torna bem mais difícil, mesmo com treinamento! Agora, a análise do comportamento, ela é extremamente útil, não só porque quando nós estamos interagindo junto a outras pessoas, principalmente face a face, entrevistar pessoas requer a utilização de processos de comunicação e técnicas de análise comportamental que nos ajudem a pessoa, o entrevistador, a extrair informações das conhecimentos das memórias dos outros indivíduos que de alguma forma foram codificadas e armazenadas. E essa análise comportamental também nos permite a ler melhor os indivíduos por detrás do conteúdo simultâneo da fala deles, a fim também de buscar não só entender melhor os processos de comunicação, saber o que as pessoas estão falando, não só por meio das palavras, mas por análise da comunicação não verbal, mas, isso também ajuda a gente galgar melhor os nossos objetivos, especialmente quando a gente está buscando a cooperação junto a uma outra pessoa! E essa cooperação a uma outra pessoa, às vezes as pessoas, como eu falei, estão dispostas a falar quando estão dispostas a falar muito pouco ou até mesmo mentir. Então, essa análise do comportamento, ela ajuda tanto nas entrevistas voltadas para a área de inteligência, como também para os interrogatórios, em saber ler melhor os indivíduos a fim de galgar melhor os objetivos, porque a gente está lendo não só por meio da comunicação verbal, mas por meio da comunicação não verbal que, muitas vezes, é mais importante do que o conteúdo expresso da fala! O conteúdo expresso da fala, muitas vezes, vem associado de crenças, pensamentos, sentimentos que tem uma carga de valores muito maior do que só as palavras expressas em si!

ANFITRIÃO:

Caríssima; ao tempo em que caminhamos para o final de nossa conversa, reitero aqui a minha admiração pela tua conduta e competência, estendendo-a aos profissionais que contigo elevam o nome do sistema penitenciário federal nessa bela e eficiente atividade! É sempre uma satisfação marchar com vocês! Deixo este espaço para suas considerações finais. Muito obrigado!

ANA PAULA:

Dr. Clark, muito obrigado! Foi uma experiência ótima! Foi muito legal poder participar desse podcast e falar sobre um tema que eu gosto muito, que é o estudo do comportamento humano. Agradecer a grande parceria que eu tenho com o senhor e, sempre salientar, que nós não podemos deixar que as nossas técnicas de análise comportamental sejam de alguma forma pobre, porque isso afeta a percepção das pessoas sobre o nosso sistema de justiça! Quando a gente faz, por exemplo, uma entrevista rasa ou pobre, isso pode desencadear outras ações. E no final, às vezes os culpados podem escapar, os inocentes são condenados, uma justiça para crianças e adultos vulneráveis, ela pode ser ineficiente! Uma técnica de análise comportamental feita de forma errada não tem valor para ninguém! Ela acaba sendo um desperdício de tempo, de recurso. Ninguém vence! E as pessoas, elas não se manifestarão nos seus processos de comunicação, se elas não confiarem na qualidade técnica das nossas entrevistas e das nossas análises comportamentais nos contextos onde elas estão inseridas. Então, é sempre um prazer muito grande estar aqui! Eu deixo esse recado para todos que estão nos ouvindo! Muito obrigado e até a próxima oportunidade!

ANFITRIÃO:

Honoráveis Ouvintes! Este foi mais um episódio do Hextramuros Podcast! Sou o Washington Clark dos Santos, seu anfitrião! No episódio de hoje, sob o patrocínio da Hex 360, uma empresa especialista em gerar valor por meio de dados precisos e soluções inovadoras, concluímos a entrevista com Ana Paula Botelho, Policial Penal Federal, especialista em análise do comportamento não verbal.

Quer saber mais e compartilhar o conteúdo deste episódio? Acesse www.hextramurospodcast.com! Inscreva-se, compartilhe e participe das futuras e exclusivas promoções! Será um prazer ter a sua colaboração! Pela sua audiência, muito obrigado e até a próxima!

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About the Podcast

Hextramuros Podcast
Vozes conectando propósitos, valores e soluções.
Ambiente para narrativas, diálogos e entrevistas com operadores, pensadores e gestores de instituições de segurança pública, no intuito de estabelecer e/ou ampliar a conexão com os fornecedores de soluções, produtos e serviços direcionados à área.
Trata-se, também, de espaço em que este subscritor, lastreado na vivência profissional e experiência amealhada nas jornadas no serviço público, busca conduzir (re)encontros, promover ideias e construir cenários para a aproximação entre a academia, a indústria e as forças de segurança.

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Washington Clark Santos

Produtor e Anfitrião.
Foi servidor público do estado de Minas Gerais entre 1984 e 1988, atuando como Soldado da Polícia Militar e Detetive da Polícia Civil.
Como Agente de Polícia Federal, foi lotado no Mato Grosso e em Minas Gerais, entre 1988 e 2005, ano em que tomou posse como Delegado de Polícia Federal, cargo no qual foi lotado em Mato Grosso - DELINST -, Distrito Federal - SEEC/ANP -, e MG.
Cedido ao Ministério da Justiça, foi Diretor da Penitenciária Federal de Campo Grande/MS, de 2009 a 2011, Coordenador Geral de Inteligência Penitenciária, do Sistema Penitenciário Federal, de 2011 a 2013.
Atuou como Coordenador Geral de Tecnologia da Informação da PF, entre 2013 e 2015, ano em que retornou para a Superintendência Regional em Minas Gerais, se aposentando em fevereiro de 2016. No mesmo ano, iniciou jornada na Subsecretaria de Segurança Prisional, na SEAP/MG, onde permaneceu até janeiro de 2019, ano em que assumiu a Diretoria de Inteligência Penitenciária do DEPEN/MJSP. De novembro de 2020 a setembro de 2022, cumpriu missão na Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, no Ministério da Economia e, posteriormente, no Ministério do Trabalho e Previdência.
A partir de janeiro de 2023, atua na iniciativa privada, como consultor e assessor empresarial, nos segmentos de Inteligência, Segurança Pública e Tecnologia.