Episode 126

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4th Apr 2025

POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS ESTRATÉGICOS NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO. Parte 1

Neste conteúdo, recebo ROBSON POLITO, Perito Criminal Federal, autor do livro “Políticas Prisionais e Recursos Estratégicos: Uma Proposta de Avaliação pela Eficiência”, cuja temática será explorada em nossa conversa, dividida em duas partes! Sinteticamente, a obra teve por objetivo analisar a relação entre recursos e eficiência em unidades prisionais do Brasil, emergindo de tal pesquisa, dentre outras constatações, a necessidade de desenvolvimento de competências em servidores públicos para enfrentar os diferentes problemas da sociedade. Saiba mais em nosso website!

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Transcript
ANFITRIÃO:

Honoráveis Ouvintes! Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião! No conteúdo de hoje, recebo Robson Polito, Perito Criminal Federal, autor do livro "Políticas Prisionais e Recursos Estratégicos: uma proposta de avaliação pela eficiência", cuja temática será explorada em nossa conversa, dividida em duas partes. Sinteticamente, a obra teve por objetivo analisar a relação entre recursos e eficiência em unidades prisionais do Brasil, emergindo de tal pesquisa, dentre outras constatações, a necessidade de desenvolvimento de competências em servidores públicos para enfrentar os diferentes problemas da sociedade. Caríssimo! Agradecendo por você ter aceitado o convite, o saúdo com as boas-vindas e peço que nos conte sobre a origem deste estudo e, considerando que o conteúdo aponta que o recurso humano é crucial para a eficiência das unidades prisionais, tendo em vista a realidade do sistema prisional brasileiro, que ações práticas podem ser implementadas para valorizar e capacitar os profissionais que atuam nesse contexto?

CONVIDADO:

Primeiramente, gostaria de cumprimentar o Dr. Clark e o público do nosso podcast Hextramuros! É uma felicidade enorme poder estar aqui hoje, debatendo ideias e conversar um pouquinho sobre a obra "Políticas Prisionais e Recursos Estratégicos: uma proposta de avaliação pela eficiência", um livro que tive a oportunidade de escrever após participar do Mestrado em Administração do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Brasilia. Deixando então, aqui, já o meu agradecimento pela oportunidade! E gostaria de dizer que essa origem decorreu exatamente da possibilidade de participar desse mestrado institucional e voltado a profissionais de segurança pública. Então, nós tínhamos, lá, colegas da Polícia Rodoviária Federal e do Departamento do Penitenciário Nacional, que se mostrou um ambiente muito rico de discussões e de novas ideias, conhecimento, aliando o conhecimento do que a academia tem, bem como a proficiência, o dia-a-dia de profissionais experimentados na segurança pública. O principal mote na realização do livro foi o desejo de poder acrescentar, poder ajudar nessa área que nós trabalhamos. Então, eu estava fazendo o mestrado pelo DEPEN e gostaria muito de pensar como eu poderia ajudar o Departamento Penitenciário, que eu poderia agregar o conhecimento dos profissionais, que eu poderia fazer que ao término desse processo de capacitação, de educação continuada que os servidores tem a oportunidade de realizar, o que eu poderia deixar como uma contribuição, pequeno tijolinho ali nessa parede que a gente faz de construção de políticas públicas. E surgiu a ideia de falar, poxa, nós sempre falamos muito sobre a execução das políticas, lutamos diuturnamente para que essas políticas sejam realizadas, executadas, que elas tragam um bom produto público ao seu final e eu pensei talvez a gente pudesse conversar um pouco sobre mensurar esse produto. Mensurar o tamanho desse esforço! Mensurar o que a gente faz e realmente ver como a gente pode chegar ali. E aí trouxe as primeiras discussões. Como eu poderia fazer isso? Que seria essa medida? E aí me veio a ideia. Não é uma ideia original, claro que não! A eficiência, ela está, inclusive, como os princípios constitucionais, mas a forma de se modelar como chegar a isso. Então, já tinha o pressuposto. Poxa, eu vou discutir a eficiência. E como fazer isso? A ideia foi, então, criar indicadores, mensurar a eficiência a partir desse modelo de eficiência e discutir como poderia melhorar ou não a eficiência das suas unidades. Claro que isso teve uma certa construção teórica, a adoção de alguma teoria que pudesse realmente fortalecer, subsidiar a criação de indicadores e a própria modelagem da verificação dessa avaliação de eficiência. E com isso, nós logramos êxito em trazer uma modelagem, onde a gente tem uma teoria trazida da academia, temos dados brutos trabalhados, consolidados por meio de ferramentas governamentais, temos uma proposta de metodologia a ser aplicada e, por fim, valores que podem ser discutidos e agregar valor à tomada de decisão, principalmente. Nesse contexto, por incrível que pareça, tivemos a felicidade de perceber que a teoria já traz, a academia já traz há muito tempo que recursos humanos realmente é de suma importância para uma organização, seja ela uma organização da seara privada, seja ela uma organização da seara pública. Então, quando começamos a conversar, fazer a nossa modelagem, aplicar o nosso modelo, reter os nossos resultados, o recurso humano despontou. E isso traz essa segunda parte da nossa pergunta, que fala, quais ações práticas podem ser implementadas para valorizar e capacitar os profissionais que atuam no contexto? O principal, realmente, é isso. Vamos falar sobre eixo de ações? Que tal o primeiro eixo, capacitação? Mas não apenas para alguns segmentos, às vezes nós temos como um ambiente de resposta, um ambiente muito reativo, capacitação pessoal, principalmente na área personal ou depois uma demanda específica na assistência, não! Acho que nós devemos simplesmente conversar sobre capacidade, um eixo de capacitação contínua e de uma forma mais equânime em todo o sistema. O sistema penitenciário tem diversas atividades que estão ali dentro, diversos profissionais que atuam em várias pontas para poder fazer com que a execução de políticas públicas prisionais seja levada a êxito. Então, esse próprio discurso da modelagem nos traz uma forma de distribuir melhor essa capacitação entre todos os cargos, não tem uma prevalência sobre o operacional, ou sobre o da assistência, ou sobre o médico, ou sobre o de educação. Podemos discutir também o eixo de profissionalização e harmonização da utilização dos recursos humanos. Nas esferas federal, estadual e municipal é muito difícil! Nós vemos assim uma disparidade muito grande entre o que é praticado na esfera federal, na estadual, na municipal. E uma luta muito grande desses servidores em reconhecer as próprias formas de trabalho, seus protocolos de atuação, as suas formações, a origem de que vêm esses servidores. Então talvez uma harmonização seja um dos caminhos interessantes. Como nós estamos tendo, por exemplo, agora com a lei geral, nos moldes da lei orgânica que está havendo para a polícia militar, para os bombeiros militares, para a polícia civil. É um princípio de homogeneização de entendimento. Isso, e eu acredito, pode trazer uma harmonização, uma facilidade de entendimento, de aplicação de recursos, até mesmo de conversa entre os vários entes, onde profissionais da mesma seara, com uma formação específica mais próxima, podem, talvez, interagir de uma forma mais coesa e, principalmente, aí eu chamaria um eixo de voz, chamar os profissionais dessa área, principalmente da área prisional, na elaboração da política pública, não só na sua execução. Então, é muito importante, quando nós estivermos falando de criar uma política pública, que esses profissionais que têm contato com o dia a dia do prisional sejam ouvidos nessa formulação. Importa lembrar aqui que, quando nós falamos, então, do mundo prisional, não estamos falando apenas do custodiado, do apenado. Estamos falando de todo um macrosistema que envolve a questão da prisional. Estamos falando das famílias que estão ali no extramuros, lá de fora.

Estamos falando da assistência, estamos falando dos médicos, estamos falando de recursos que têm que ser alocados entre partes, então existe um macro mundo ao redor do que é uma política prisional. Então precisamos abrir um pouco a nossa mente e saber que a gente não fala apenas de pessoas custodiadas ali dentro do nosso presídio.

ANFITRIÃO:

Recursos como capacidade, saúde, educação e trabalho são frequentemente mencionados como essenciais para políticas públicas prisionais. No entanto, a pesquisa indicou que esses fatores não se mostraram significativos para a eficiência. Como você interpreta essa aparente contradição?

CONVIDADO:

É uma pergunta muito interessante, um ponto interessante para discutir. Veja; adotar eficiência como unidade medida não significa que algo que não seja considerado eficiente não deva ser feito. Ou seja, ineficiências ocorrem e, às vezes, elas são inerentes à atuação. É isso que a gente precisa estar dialogando aqui para discernir, níveis de eficiência. O livro mesmo, ele apresenta, além de reforçar a crítica a uma aproximação de técnicas gerenciais, importação de modelos da iniciativa privada, que não tem a devida ponderação, o devido ajuste para uma realidade pública, principalmente se nós estivermos adotando modelos que visam apenas performance! Ou seja, estamos pensando aqui que a administração pública só deve se pautar por um viés financeiro, por um viés orçamentário, por um viés de conseguir fazer com que algo dê sempre lucro, que é um enfoque específico na unidade privada. Então veja, adotar um enfoque que seja apenas lastreados de eficiência, aumento de produtividade, melhorias de processos, é interessante, mas apenas isso pode se mostrar reducionista. Nós temos que perceber, então, que o aumento de eficiência, melhorias de processos, aumento de produtividade, eles têm que estar lastreados para contribuir para uma solução de um problema público apresentado. Então, muitas vezes, políticas que podem ser tidas como ineficientes, elas são extremamente necessárias! Então, nesse modelo, você pode dizer: "poxa! Então a metodologia não se aplica a mim? Ela se aplica! Por quê? Porque nós estamos trabalhando, então, em como ter uma menor ineficiência! Veja; é às vezes intuitivo! Por exemplo; vamos discutir aqui de uma forma "latu": você vai ter um investimento muito grande com resultado pequeno para poucas pessoas. Às vezes, numa seara prisional, por exemplo, você vai fazer uma sala de aula. Você tem muitos apenados dentro de um presídio, mas nem todos querem utilizar o recurso educacional! Nem todos querem utilizar o recurso de uma oficina laboral que está sendo disponibilizado. Então você tem o quê? Muito recurso investido e um retorno um pouco menor! Mas, aí, você vai dizer, quantitativamente apenas falando, isso é ineficiente! Mas existe toda uma parte qualitativa que também deve ser discutida. Então aquela política, apesar de ineficiente, ela é essencial! Você deve poder então visualizar questões como o ganho, às vezes, não mensurável, de você manter uma higiene mental sadia desses custodiados. Você que está ensinando um ofício! Você está mantendo uma unidade prisional mais pacífica, tendo em vista que aqueles custodiados não estão ansiosos, eles estão com ocupação durante todo o seu período laboral dentro da unidade prisional. Então, ele está estudando, ele está trabalhando! Isso traz, agrega um valor enorme a ele enquanto saúde, física e mental, bem como a todos os profissionais que estão envolvidos, que tem uma unidade mais tranquila, mais pacificada, uma unidade onde conseguem perceber a realização de um bom trabalho público, pois veem que os custodiados estão conseguindo utilizar aquela política pública da melhor forma. Então, acho que esse é o principal ponto. Nós temos que discutir sempre a eficiência, mas em seara pública com uma eficiência ponderada, com uma análise qualitativa do que aquela política pública se propõe a alcançar.

ANFITRIÃO:

Meu caro, a visão baseada em recursos tem sido aplicada principalmente em contextos competitivos, como o da iniciativa privada. Quais foram os principais desafios e adaptações necessárias para aplicar tal abordagem ao sistema prisional?

CONVIDADO:

Muito obrigado por essa pergunta! Ela me traz a oportunidade de apresentar a pequena contribuição teórica que o nosso livro trouxe. A partir de uma Teoria dos Recursos, citando aqui Penrose como um dos principais teóricos, ele partia de que a administração das empresas, principalmente, trabalhava com o ambiente externo, ou seja, as organizações buscavam verificar como elas poderiam reagir e sobreviver à hostilidade do seu ambiente, à competitividade das demais organizações. Já a Teoria do Recurso, ela busca essa resposta olhando para dentro da unidade. Ela busca dentro da organização quais seriam os recursos que poderiam me trazer um diferencial, uma performance diferenciada, uma diferença entre EU e os demais do ambiente. O que EU tenho como recurso meu que pode ser utilizado para me diferenciar nesse ambiente e, aí sim, melhorar minha possibilidade de sobrevivência ao mercado. Dentre as perspectivas que nós adotamos, existia uma perspectiva chamada VBR - Visão Baseada em Recursos. Principalmente aqui falando em teóricos como Grant, como Barney, e Barney e Hester que foram adotados para esse nosso estudo. O que seria VBR? É uma análise da relação entre recursos disponíveis e o desempenho dessas unidades. Partindo do pressuposto de que as organizações são heterogêneas, ou seja, são diferentes entre elas, e que recursos possuem mobilidade diferenciada, ou seja, nem todo mundo tem acesso ao mesmo recurso. Ou às vezes tem acesso a esse recurso, mas nem todo mundo consegue utilizá-lo da melhor forma. Então, a partir desse pressupostos, os estudos foram buscando entre diversas variáveis, como capacidade, processo organizacional, atributos, informações e conhecimentos que a firma mobiliza para poder verificar como ela conseguiria ter uma performance melhor. E aí foram criados os estudos hoje, atualmente trabalham ainda, já estamos falando em e-commerce, outside, poder de barganha, reputações e alianças estratégicas. Mas a categoria mais consolidada trabalha com quatro principais recursos dentro dessas unidades organizacionais. E eles seriam recursos financeiros, físicos, humanos e organizacionais. O que nós podemos estar falando como recurso financeiro? Seria toda fonte de dinheiro, principalmente que a organização tenha a sua disponibilização. No caso do segmento público, principalmente orçamento. Físicos: podem incluir toda uma tecnologia física que é utilizada por essa organização. E aí nós estamos falando de plantas, equipamentos dessa firma, pode ser software, hardware, sua localização geográfica pode ser uma localização geográfica privilegiada e um acesso a matérias-primas. Recursos humanos, que não se limita apenas a empreendedores e gerentes, ou seja, não estamos falando só no caso da organização pública, de servidores públicos de carreira, por exemplo, também teríamos que estar aqui os colaboradores, funcionários públicos, estagiários, pessoas que colaboram e agregam valor ao serviço público e, por fim, recursos organizacionais. Isso seria o quê? A capacidade que a organização tem de aproveitar esses recursos que estão à sua disposição. Então, muitas vezes, não adianta você ter muito recurso e baixa capacidade de execução. Não adianta você ter um software excelente que você pode adquirir, mas você não tem conhecimento suficiente para utilizar aquele software na sua potencialidade. Então, vocês percebem que a VBR traz exatamente isso, heterogeneidade de recursos, ou seja, os recursos são diferentes entre si, e a mobilidade perfeita! Nem todo mundo tem acesso a esses recursos. Ou, quando tem, às vezes não tem a capacidade de utilizá-los da melhor forma. Não consegue fazer com que isso lhe traga um desempenho superior duradouro. E aí que você pergunta: "mas por que, então, estamos discutindo recursos?" Porque nós estamos buscando aqueles que são estratégicos, ou seja, recursos que conseguem realmente fazer com que uma unidade tenha uma eficiência, uma performance melhor que a outra. E como descobrir isso? Ou como diferenciar um recurso comum de um estratégico? A VBR traz um modelo que nós usamos o mnemônico VRIO das iniciais de valor, raridade, imitabilidade e organização. Ou seja, usando esses quatro requisitos, nós buscamos, então, diferenciar, discernir, evidenciar qual recurso realmente é estratégico. Para isso, a gente parte dos princípios. Primeiro, esse recurso tem valor? Ou seja, ele permite que a firma explore uma oportunidade ambiental, neutralize uma ameaça ao seu ambiente? Esse recurso é raro? Esse recurso é controlado apenas por um pequeno número de organizações ou apenas por uma organização ou é um recurso que está à disposição de todos? Esse recurso é de difícil imitabilidade? Ou seja, eu não tenho esse recurso, mas eu consigo imitá-lo ou consigo obtê-lo de uma forma fácil no mercado ou consigo desenvolvê-lo? E, por fim, o requisito organizacional: as minhas políticas, procedimentos, processos da minha organização, eles estão prontos para dar suporte à exploração desses recursos que são, que nós entendemos como valiosos, raros e custosos de imitar? Se você tem uma resposta positiva para esses quatro requisitos, você, em princípio, tem um recurso estratégico que vai poder te dar um diferencial frente às demais organizações. Aí você me pergunta: "poxa! Mas como eu vou poder, então, adaptar isso ao serviço público?" O serviço público não busca principalmente lucro, ele busca uma maior eficiência! Foi por isso que nós trouxemos essa medida. E aí nós olhamos então dentro das mil, cento e quarenta e quatro unidades prisionais para fazer essa pesquisa! O principal ponto que nós podemos trazer e discernir aqui como isso pode ser aplicado na administração pública é perceber que você tem que fazer uma pequena adaptação nesse modelo. Ou seja, quando você está falando de organizações privadas, o que elas buscam? Vantagem competitiva e maximização de lucro! Já na seara pública, não é isso que nós buscamos. Nós precisamos adaptar. Nós precisamos passar, então, uma visão de vantagem competitiva para uma visão de ganho de eficiência. E precisamos trazer a ideia de maximizar lucro para uma ideia de melhoria no serviço ou no produto público. Ou seja, nós estamos trazendo, então, uma diferenciação em dois pontos principais, e isso nos leva a utilizar também uma adaptação para o nosso modelo VRIO. Porque quando nós temos recursos que são valiosos, raros, de possível imitação, eles trazem uma implicação competitiva. Se ele é um recurso que não é valioso, ele te traz uma desvantagem competitiva. Mas digamos que ele seja valioso, mas não é raro. No máximo, você vai conseguir uma paridade competitiva. Mas, digamos que ele seja valioso, raro e de difícil imitação. Você vai ter um recurso estratégico! Ele pode ser estratégico para uma organização privada. Mas para a administração pública, ele seria um produto estratégico? Veja; na administração pública, o nosso interesse é verificar a eficiência para buscar a imitabilidade. Nós queremos que outras unidades que não são tão eficientes descubram como aquela unidade se mostrou eficiente e repliquem essa aplicação em suas políticas públicas para que ela também se torne eficiente. É um círculo virtuoso, uma melhoria contínua no padrão de prestação de serviço público e de eficiência. Então, se você tem um recurso que vai ser valioso, raro, mas de difícil imitação, você tem um recurso estratégico, mas ele é impróprio para uma orientação de política pública. Mas, quando conseguimos, então, alocar nossos recursos, perceber esse recurso discernir se um recurso é estratégico, que ele é valioso, raro, e ele é de possível imitação, aí nós temos um recurso estratégico para a administração pública passivo a diretar novas políticas públicas. Ou seja; voltamos ali ao exemplo do nosso detector de metais. Se você tem uma unidade que tem um detector de metal, ele tem uma vantagem competitiva frente a uma unidade que não possui. Ele tem uma segurança orgânica mais eficiente. Esse recurso, apesar de não ser tão valioso, não ser raro, ele é passivo de imitação. O que nós vamos fazer então? Buscar essa imitação! A unidade que não tem vai perceber essa necessidade, vai buscar a aquisição desses detectores e passará a ter uma tecnologia melhor para ser implantada. E com isso nós temos uma melhoria de eficiência em todo o segmento. Já outras unidades, por exemplo, podem ter uma localização geográfica excelente. Essa localização geográfica que permite talvez um isolamento, uma segurança maior orgânica, que se impeça uma fuga de prisioneiros, ou um clima que seja mais propício a atividades laborais ou educacionais. Isso ele vai ter, então, um recurso físico estratégico que vai lhe permitir ter uma vantagem de eficiência sobre todas as demais, porque elas não conseguem replicar aquela localização geográfica. Mas dificilmente a gente vai conseguir aplicar, então, uma imitabilidade. Então é um recurso estratégico, mas ele não orienta as nossas políticas públicas. Então, essas foram as principais adaptações. E você percebe, então, que com essa adaptação é muito viável a utilização da visão baseada em recursos para a administração pública. Nós falamos de recursos que detemos, nós falamos de um olhar para dentro das nossas unidades, conseguimos ver a medida necessária para se discutir como chegar a um melhor denominador comum, que é o uso de eficiência, e conseguimos aplicar o modelo que a teoria traz, o modelo VRIO, escolhendo então aqueles recursos que são estratégicos. No nosso estudo, por exemplo, como a pergunta inicial trouxe, o recurso humano se mostrou extremamente estratégico. É um recurso valioso, é um recurso raro, porque não podemos perder profissionais capacitados, e é um recurso que nós conseguimos de difícil imitação, você só consegue ter servidores escolhidos dentro de processo seletivo, concurso público, cada vez mais difíceis, e é um modelo que nós podemos replicar. Então, é estratégico, induz eficiência e traz melhoria na prestação de serviço público.

ANFITRIÃO:

Sua pesquisa propõe indicadores para avaliação de políticas públicas prisionais validados por juízes especialistas. Você poderia nos apresentar alguns exemplos desses indicadores e explicar como eles podem contribuir para a gestão eficiente do sistema prisional?

CONVIDADO:

É verdade! Um dos principais pilares do estudo realizado foi a elaboração de indicadores públicos. E aqui é importante nós ressaltarmos o que é um indicador. Muitas pessoas, às vezes, confundem indicadores com meras proporções! Você divide o número de processos pelo número de servidores e encontra um valor x. Isso é só uma proporção! Um indicador para ser um indicador, ele tem que te trazer uma informação agregada a partir de dados. Esses dados, eles devem ser retirados com base em uma teoria forte. Porque é importante que na construção desse indicador você tenha uma teoria que justifique a escolha daqueles números, bem como a informação gerada por esse indicador consiga agregar valor à sua tomada de decisão. Ou seja, não são números escolhidos aleatoriamente. No nosso caso, nós tínhamos o quê? Uma teoria escolhida da perspectiva da visão baseada em recursos, utilizando uma visão para recursos das unidades prisionais. Nós tínhamos, então, uma escolha, uma métrica que foi a eficiência. E a partir dessa métrica, nós tínhamos que ter, bem; discutir eficiência, discuti-se recursos e discuti-se resultados. Mas que recurso e que resultado? Utilizamos a VBR, seus recursos físicos, financeiros, humanos e organizacionais, e as políticas públicas prisionais. E aqui nós temos a ligação, então, uma teoria forte com a finalidade de ser das políticas públicas principais apresentadas para a execução do serviço penal. Com isso, fizemos então, tendo a base de dados brutos, que é o SISDEPEN, a escolha de diversas variáveis que foram aglutinadas, foram trabalhadas, em planilha específica para retirada de dados errôneos, para retirada de "outliers", são dados que fogem a curva, dados que de forma muito evidente estavam inseridos de forma errada no sistema. E aqui não é crítica a nenhum colega que esteja fazendo trabalho, mas, muitas vezes, há uma certa inconsistência na conceituação do que é aquele dado. Um exemplo, nós estávamos discutindo, verificando as questões de saúde e foi verificado um certo número constante na utilização de módulos de saúde, de estruturas, e de repente veio um número muito discrepante, muito discrepante! E eu falei: nossa! Isso está muito divergente! Por quê? Fomos procurar a fundo e descobrimos que, na realidade, em vez de lançar os valores que seriam pertinentes à prestação de serviço apenas para a penitenciária, ele lançou todos os serviços daquela unidade de saúde! Mas, porque é uma unidade que é atendida à penitenciária e ao público em geral! Então, houve apenas um equívoco na sua constituição! O número lançado foi pela totalidade do hospital e não pela totalidade dos atendimentos ao presídio. Então, esse número, por exemplo, foi retirado para que ele não trouxesse prejuízo à análise. E, dito isso, nós buscamos, então, o quê? Principalmente capacidade, saúde, educação, laboral, humano, que foram as principais políticas que nós temos: capacidade dos presídios, a política de saúde, a política de educação e a política laboral. Em recurso humano são as pessoas que fazem essas políticas serem executadas no dia a dia. Como resultado, buscamos capacitados, ou seja, o número de pessoas que foram capacitadas na política, os instruídos, o número de pessoas que tiveram o término na sua educação e os consultados, ou seja, o número de atendimentos que foram realizados. Tendo então resultados e recursos, nós podemos verificar a métrica e obter assim a eficiência. O importante aqui é você lembrar que o indicador traz muita credibilidade para a utilização dos dados, traz credibilidade para a informação que é prestada à sociedade. Ele é uma forma objetiva de quantificação de como você está fazendo a execução da sua política pública. E a partir disso você consegue, então, prestar uma boa informação para a sociedade, consegue ter comparabilidade entre unidades, consegue ter comparabilidade entre a própria unidade no decorrer do tempo, e consegue um método muito efetivo e objetivo de prestação de informações. Então, era um pilar essencial para a utilização, não só na nossa pesquisa, como de amplo aspecto nas unidades públicas do país, seja de segurança, educação, utilização orçamentária. Então, é de suma importância, não só o seu estudo, bem como a popularização desse instrumento de mensuração pela sociedade e pelos nossos profissionais da seara pública.

ANFITRIÃO:

Honoráveis Ouvintes! Faremos um intervalo neste momento! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião! Em sequência, no próximo episódio, concluiremos esta esclarecedora conversa com Robson Polito, Perito Criminal Federal e autor da obra "Políticas Prisionais e Recursos Estratégicos: uma proposta de avaliação pela eficiência". Acesse o nosso website e saiba mais sobre este conteúdo! Inscreva-se e compartilhe o nosso propósito! Será um prazer ter a sua colaboração! Pela sua audiência, muito obrigado e até a próxima!

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About the Podcast

Hextramuros Podcast
Vozes conectando propósitos, valores e soluções.
Ambiente para narrativas, diálogos e entrevistas com operadores, pensadores e gestores de instituições de segurança pública, no intuito de estabelecer e/ou ampliar a conexão com os fornecedores de soluções, produtos e serviços direcionados à área.
Trata-se, também, de espaço em que este subscritor, lastreado na vivência profissional e experiência amealhada nas jornadas no serviço público, busca conduzir (re)encontros, promover ideias e construir cenários para a aproximação entre a academia, a indústria e as forças de segurança.

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Washington Clark Santos

Produtor e Anfitrião.
Foi servidor público do estado de Minas Gerais entre 1984 e 1988, atuando como Soldado da Polícia Militar e Detetive da Polícia Civil.
Como Agente de Polícia Federal, foi lotado no Mato Grosso e em Minas Gerais, entre 1988 e 2005, ano em que tomou posse como Delegado de Polícia Federal, cargo no qual foi lotado em Mato Grosso - DELINST -, Distrito Federal - SEEC/ANP -, e MG.
Cedido ao Ministério da Justiça, foi Diretor da Penitenciária Federal de Campo Grande/MS, de 2009 a 2011, Coordenador Geral de Inteligência Penitenciária, do Sistema Penitenciário Federal, de 2011 a 2013.
Atuou como Coordenador Geral de Tecnologia da Informação da PF, entre 2013 e 2015, ano em que retornou para a Superintendência Regional em Minas Gerais, se aposentando em fevereiro de 2016. No mesmo ano, iniciou jornada na Subsecretaria de Segurança Prisional, na SEAP/MG, onde permaneceu até janeiro de 2019, ano em que assumiu a Diretoria de Inteligência Penitenciária do DEPEN/MJSP. De novembro de 2020 a setembro de 2022, cumpriu missão na Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, no Ministério da Economia e, posteriormente, no Ministério do Trabalho e Previdência.
A partir de janeiro de 2023, atua na iniciativa privada, como consultor e assessor empresarial, nos segmentos de Inteligência, Segurança Pública e Tecnologia.